A véspera do aniversário de 42 anos da gaúcha Mônica Patricia Ferreira não foi repleta de animação e planejamentos como de costume. Diagnosticada com câncer de mama em maio deste ano, ela recebeu, em 16 de junho, a notícia de que havia metástase no fígado e de que a quimioterapia faria seu cabelo cair.
Para demonstrar apoio à filha, Nair de Vargas Ferreira, 66, decidiu que rasparia a cabeça com ela quando chegasse o momento. E assim o fez no último sábado (10), logo depois que o filho mais novo terminou de passar a máquina em Mônica.
— Quando eu soube que o cabelo dela iria cair, pensei: “Vou raspar minha cabeça também”. Porque assim daria um apoio para ela e os nossos cabelos iriam crescer juntos depois — relata Nair, que já teve a mesma doença três vezes, mas não perdeu o cabelo durante os tratamentos.
Feliz com a atitude, Nair destaca que sua intenção não foi demostrar que era corajosa, mas sim que estaria sempre ao lado de Mônica para ajudar e cuidar. Segundo ela, isso lhe dá um grande prazer, pois os filhos são o sentido de sua vida:
— A minha vida é pelos meus filhos, e tudo que eu puder fazer por eles será com o maior amor do mundo. Foi movida por um grande amor pela minha filha que fiz isso, e estou me sentindo muito bem, só esperando que ela fique logo curada para fazermos muita festa e muitos penteados nos cabelos que vão crescer.
A surpresa da mãe deixou Mônica ainda mais emocionada. Ela afirma que, ao se ver sem cabelos, só conseguiu chorar e, apesar de ter ficado feliz com a atitude da mãe, uma parte sua também ficou triste, pois o cabelo dela estava muito bonito.
Diagnóstico e tratamento
Devido ao histórico familiar, Mônica fazia exames desde que tinha 25 anos. Em 2020, durante um autoexame, sentiu um nódulo na mama e procurou um médico para investigar. O resultado de uma ressonância magnética mostrou o que outros exames não haviam revelado: um tumor que já ocupava metade da mama.
Uma tomografia feita posteriormente também apontou lesões hepáticas que, na verdade, eram outros tumores. A notícia veio na véspera do aniversário da jornalista, moradora de Triunfo, e foi seguida de informações sobre restrições alimentares, necessidade de mudança de hábitos e sintomas que viriam com a doença.
— Na hora que eu soube que as lesões no fígado eram tumores, eu só conseguia pensar em quem tinha morrido de câncer no fígado. Comecei a achar que, com sorte, talvez eu conseguisse chegar aos meus 43 anos. Naquela semana do meu aniversário, só o que eu consegui pensar era que eu ia morrer — relembra Mônica.
Atualmente, a jornalista está fazendo seu tratamento no Hospital Ana Nery, em Santa Cruz do Sul. Ela conta que sua vida segue com uma oscilação de sentimentos bons e ruins, mas que uma das coisas que lhe dão vontade de seguir em frente é o apoio da mãe, do pai, do irmão e da sobrinha de 10 anos, que lhe manda áudios dizendo que sabe que tudo ficará bem e que sente saudades.
— Todas as vezes em que penso em desistir, que falo em desistir, eles aparecem com uma força, uma vontade de lutar que não tem como ficar desanimada — afirma.
Rede de apoio
Além de raspar a cabeça para apoiar a filha, Nair acompanha todas as consultas e sessões de quimioterapia e faz tudo que pode para ajudar Mônica. Após enfrentar a doença três vezes, ela sabe da importância de uma rede de apoio.
De acordo com Nair, no seu primeiro diagnóstico, em 1995, não havia ninguém na cidade de Triunfo para auxiliá-la, mas, depois, conheceu o Instituto da Mama (Imama), em Porto Alegre, onde recebeu acolhimento. Agora ela é voluntária da instituição.
— Sigo vindo com a Mônica (nas consultas) e, toda vez que precisar, eu venho sem problema nenhum. No momento, a minha prioridade é ficar com ela, cuidar dela e acompanhar, com o maior prazer do mundo — salienta.
Mônica ressalta que, se Nair não a acompanhasse em todas as consultas e sempre tentasse animá-la e motivá-la, o processo seria muito mais difícil.
— Vai ser difícil, mas é o que eu vou fazer. Então, vou continuar lutando e, com a minha mãe sempre do meu lado, vou ter força para encarar isso tudo e ficar bem — conclui.
Produção: Jhully Costa