No domingo (4) , o Vaticano anunciou que o papa Francisco passou por um procedimento para tratar uma estenose diverticular do cólon. A hemicolectomia, cirurgia que retira parte do intestino, durou três horas e foi bem-sucedida, conforme a imprensa oficial da Igreja Católica.
Os divertículos, explica Heloisa Guedes Mussnich, chefe do Serviço de Coloproctologia do Hospital Moinhos de Vento, de Porto Alegre, são pequenas herniações da mucosa do intestino provocadas por inúmeros fatores no decorrer da vida.
— Eles vão aparecendo com o passar dos anos, estão ligados ao processo de envelhecimento. Costumo dizer para meus pacientes que divertículo é que nem ruga no olho: vem com o tempo — ilustra Heloisa.
Com o surgimento desses divertículos, alguns indivíduos, cerca de 5% a 15%, podem evoluir para a diverticulite, que nada mais é do que a inflamação desses segmentos. A partir do aparecimento de vários quadros de diverticulite é que surge a estenose, ou seja, estreitamento do intestino — ela é uma consequência de cicatrizes dos processos inflamatórios.
— O local inflama e cicatriza, inflama e cicatriza, e assim vai. Com isso, o tecido fica sem elasticidade. Essas fibroses sucessivas causam a estenose, em alguns casos, que não permite que as fezes passem — explica Fábio Guilherme Campos, ex-presidente da Sociedade Brasileira de Coloproctologia e professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
Para tratar o problema, o Papa foi submetido a um procedimento que retirou essa parte do órgão e suturou apenas os tecidos saudáveis. Embora não tenha sido divulgado, Campos acredita que a cirurgia tenha sido feito por via laparoscópica.
Segundo os comunicados do Vaticano, Francisco deve permanecer internado por sete dias no Hospital Gemelli, em Roma. A hospitalização, acrescenta Campos, se deve aos riscos do procedimento:
— A principal complicação é a deiscência de anastomose, que é quando a sutura abre. Se em cinco ou seis dias a pessoa volta a comer e a evacuar é porque não vai acontecer.
Fatores de risco
Sem sintomas específicos, essa doença se manifesta de maneira semelhante às demais enfermidades do intestino, como por exemplo dificuldade para evacuar, dores abdominais, cólicas e fezes menores. Qualquer alteração é motivo para consultar um médico.
Como o surgimento dos divertículos vem com o passar dos anos, a idade acaba se tornando um fator de risco para o problema, no entanto, a alimentação equilibrada, rica em fibras, pode prevenir seu aparecimento.
— Os divertículos são uma alteração multifatorial. Tem famílias que têm mais, mas esse desenvolvimento está relacionado com dietas com menos fibras, muita gordura e proteína animal. Assim como as fibras, o exercício físico tem efeito protetor — observa Heloisa, complementando que a constipação também é um fator de risco para a doença.