O avanço da vacinação contra a covid-19 já provoca impacto significativo sobre a internação hospitalar de pacientes no Rio Grande do Sul.
O número de leitos destinados à pandemia segue em tendência de declínio desde o começo do mês, e a maior proteção conferida aos idosos provoca uma mudança radical no perfil das pessoas hospitalizadas em unidades de terapia intensiva (UTIs). Entre janeiro e junho, caiu pela metade a proporção de doentes com 60 anos ou mais entre aqueles em situação crítica com covid no Estado. Especialistas alertam que, ainda assim, o vírus segue em alta circulação e exige a manutenção de medidas preventivas para que o cenário não volte a piorar.
Até a tarde desta segunda-feira (28), 40% dos gaúchos já haviam recebido pelo menos uma dose da vacina, e 16% estavam com o esquema vacinal completo. Os números ainda estão distantes do patamar de sete em cada 10 habitantes com imunização integral para frear a circulação do vírus, mas avalia-se que as aplicações já trazem benefícios concretos.
– Ainda não temos imunidade coletiva, mas já conseguimos ver a proteção individual que a vacina oferece justamente contra as formas moderada e grave da doença. As doses começaram a ser oferecidas para grupos como o dos idosos – avalia o presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Juarez Cunha.
Um levantamento realizado por GZH nos microdados do Sistema de Informação da Vigilância Epidemiológica da Gripe (Sivep-Gripe) do Ministério da Saúde, que incluem os registros de coronavírus, mostra que 66% das hospitalizações por covid em UTIs no Estado correspondiam a idosos em janeiro. Desde aquele mês, quando teve início o processo de imunização com prioridade a profissionais de saúde e faixas etárias mais elevadas, essa proporção vem despencando.
Os números da mais recente atualização do Sivep, com registros até 21 de junho, demonstram que o percentual de idosos recuou para 33% neste mês, seguindo uma tendência de queda brusca desde o começo do ano. Ou seja, dois terços dos pacientes graves têm menos de 60 anos em razão, ao que tudo indica, da menor cobertura pelas vacinas entre essas faixas etárias.
– Dado o que já tínhamos de informação sobre a eficácia das vacinas, era esperado que, com mais de 90% da população acima de 70 anos completamente imunizada, por exemplo, a gente já começasse a ver redução de hospitalizações. Com isso, também se reduz a média de idade dos internados – observa a professora de epidemiologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e integrante do Comitê de Dados ligado ao Piratini, Suzi Camey.
Em seis meses, a idade média de quem desenvolveu a forma mais aguda da doença caiu 11 anos de – 65 para 54. É importante manter os cuidados de prevenção, como distanciamento social, mesmo depois da imunização completa porque nenhuma vacina garante 100% de proteção. Por isso, sempre será possível haver um percentual de casos que se complicam até que o vírus seja barrado.
Há cerca de três semanas, os gaúchos também observam um declínio suave, mas constante, na quantidade de pacientes internados em leitos clínicos e de UTI. Apenas nas últimas duas semanas, houve diminuição de 13% na demanda de pacientes com o vírus em alas de terapia intensiva e de 23% em setores de enfermaria, de acordo com os dados disponíveis até as 14h desta segunda.
Uma das hipóteses é de que o avanço da imunização também esteja favorecendo esse cenário, já que, no mesmo período, a circulação do vírus se manteve em patamar elevado no Estado. No domingo (27), por exemplo, os gaúchos somaram 255 casos acumulados por cem mil habitantes em uma semana , acima da média nacional de 234.
– Podemos, sim, estar vendo efeito da vacinação, ao mesmo tempo em que o número de casos positivos também pode estar refletindo um aumento na testagem, que é uma das estratégias que algumas regiões do Estado estão buscando para tentar controlar a pandemia – avalia Suzi.
Internações em UTIs de Porto Alegre caem a menor nível desde fevereiro
Porto Alegre é uma das regiões gaúchas onde, nas últimas semanas, as unidades de terapia intensiva (UTIs) demonstram recuo constante.
O número de pacientes com diagnóstico confirmado para coronavírus era de 336 até o meio da tarde desta segunda-feira, conforme o painel de monitoramento da Secretaria Municipal da Saúde (SMS). Isso representa um recuo de 16% em duas semanas, e o menor patamar desde 19 de fevereiro, quando havia 326 vagas ocupadas (o dado de sábado, 26, não estava disponível nos sites da prefeitura até a publicação desta reportagem).
No pico da pandemia até o momento, verificado em 25 de março deste ano, a Capital chegou a somar 870 doentes em estado crítico. Nos piores momentos do ano passado, nos dias 2 e 4 de setembro, havia 347 hospitalizados com covid.
Até a tarde desta segunda, Porto Alegre havia atendido com esquema completo de imunização 23% da população. O virologista da Universidade Feevale Fernando Spilki lembra que a tendência de declínio na demanda por hospitais em razão da pandemia pode ser revertida se cuidados básicos de prevenção como distanciamento e uso de máscara não forem mantidos.
Uma das possibilidades mais preocupantes é a eventual entrada de novas variantes como a delta, identificada originalmente na Índia, que segue se espalhando por outros países. Mas mesmo as cepas já presentes no Estado podem levar a novos saltos de internações.
– Pode ocorrer por uma variante, mas eventuais surtos isolados (com os vírus já em circulação local) podem ser estopim – observa Spilki.