Passadas três semanas, as primeiras regiões do Rio Grande do Sul que receberam alertas no novo modelo de gestão estadual da pandemia de coronavírus seguem registrando agravamento da pandemia ou colhem apenas melhoras discretas em seus indicadores — o que é insuficiente para retirar essas zonas da classificação de risco mais alta.
Das cinco primeiras regiões que receberam alertas, seguem com tendência de piora ou estabilização em nível crítico as regiões de Passo Fundo, Cachoeira do Sul, Cruz Alta e Ijuí. Apenas a zona de Santo Ângelo tem um indicativo mais consistente de melhora na última semana, sem contudo sair do nível crítico de risco.
Essas regiões foram as primeiras a receber, em 18 de maio, alertas no sistema 3As de gestão estadual da pandemia. Pelo sistema 3As, até o dia 20 de maio os prefeitos dessas cinco zonas adotaram medidas para frear o contágio em seus territórios.
No entendimento de duas epidemiologistas e de um cientista de dados consultados por GZH, se as medidas adotadas fossem mais efetivas, os indicadores de contaminação e de internações já apresentariam queda consistente desde a semana passada.
— Após três semanas, podemos dizer que as medidas implementadas até aqui, nessas quatro regiões, são insuficientes. A única das cinco que está mostrando uma mudança é a região de Santo Ângelo. No geral, os alertas não têm mostrado o efeito que a gente gostaria de ver — avalia Suzi Camey, professora de epidemiologia da UFRGS e uma das responsáveis por analisar, dia a dia, os indicadores regionalizados da pandemia e sugerir a emissão de avisos e alertas.
As curvas de novos casos e de paciente com covid-19 em leitos clínicos são algumas das primeiras a apresentar melhora se aplicadas medidas eficientes para contenção da pandemia. Conforme os especialistas, após três semanas completas já há segurança para avaliar se as medidas estão surtindo efeito.
— Em algumas dessas cinco regiões a gente não percebe resultados efetivos e, em outras, resultados parcialmente efetivos. Não é o desejado. Para esse nível de risco, precisamos de medidas realmente efetivas — aponta o cientista de dados e coordenador da Rede Análise Covid-19, Isaac Schwartzhaupt.
Pelo novo sistema de gestão da pandemia no Estado, há dois níveis de risco: avisos para regiões com piora leve e alertas para pioras graves. Depois de receber alerta, as prefeituras da região devem adotar um plano de ação com medidas capazes de reduzir bruscamente o contágio.
— Os resultados nas primeiras regiões que receberam alerta não entusiasmam. Após três semanas, a gente gostaria de ver uma queda maior nos indicadores. Os prefeitos dessas cinco regiões devem analisar com muito cuidado os dados e adotar medidas o mais precocemente possível — avalia a epidemiologista e reitora da UFCSPA, Lúcia Pellanda, que também analisa diariamente os dados e ajuda a definir avisos e alertas no comitê de dados.
Os especialistas consultados por GZH reforçam que baixas pontuais em meio a curvas que estão apontando para cima não são consideradas quedas. Em geral, as baixas pontuais nas curvas estão relacionadas a atrasos nos registros e não a resultados positivos no controle da pandemia.
Região de Passo Fundo
Entre as cinco regiões, umas das que mais preocupa os analistas é a de Passo Fundo, onde os indicadores tanto de internações clínicas por covid-19 quanto de novos casos seguem piorando em alta velocidade.
— Aparentemente, as medidas adotadas na região de Passo Fundo não tiveram efeito. Eles precisam revisar os planos e tomar medidas mais críticas — avalia Suzi.
— Praticamente nada mudou nessa região depois do alerta. Pelos indicadores, as medidas na região de Passo Fundo parecem pouco efetivas — acrescenta Schwartzhaupt.
O aumento de casos por covid-19 segue pressionando o sistema de tratamento intensivo na região de Passo Fundo. A área tem 106% de ocupação das UTIs, conforme dados desta quarta-feira (9).
Região de Cachoeira do Sul
Em Cachoeira do Sul, a curva de novos casos segue apresentando subidas íngremes, enquanto as internações por covid-19 em leitos clínicos não arrefecem.
— As medidas em Cachoeira parecem pouco efetivas ou nada efetivas, até aqui. A gente já tinha que estar percebendo efeitos maiores nos indicadores — avalia a epidemiologista e reitora da UFCSPA.
— As regiões de Cachoeira do Sul e de Passo Fundo são as mais críticas, neste momento, dessas que estão há três semanas em alerta. No fim de maio, a região de Cachoeira do Sul chegou a apresentar uma queda, mas rapidamente se reverteu em nova alta expressiva de casos — aponta Suzi.
— A situação segue piorando. Não dá para dizer nem que há uma estabilização na região de Cachoeira do Sul — acrescenta Schwartzhaupt.
Além de seguir com alta de casos e internações, a região de Cachoeira do Sul tem o agravante de conviver, ao longo das últimas semanas, com colapso nas UTIs. A taxa de ocupação, nesta quarta-feira (9), é de 165%.
Região de Ijuí
A região de Ijuí mantém a piora no número de casos, em velocidade mais lenta que Passo Fundo e Cachoeira do Sul, mas constante. O número de internados por covid-19 em leitos clínicos apresenta oscilações nos últimos dias, mas ainda em cenário insuficiente para garantir que há tendência de baixa.
— Se as medidas adotadas na região de Ijuí estão surtindo algum efeito, são efeitos discretos. O caminho para reverter o cenário é vermos os principais indicadores juntos em queda — diz o coordenador da Rede Análise Covid-19.
— O aumento no número de casos da região de Ijuí não foi tão acelerado, mas ainda nem parou de crescer. E as hospitalizações tiveram uma leve queda, mas já cresceram de novo. É mais uma região com medidas insuficientes, até aqui — indica a epidemiologista da UFRGS, Suzi Camey.
A região de Ijuí, nesta quarta-feira, registra ocupação de UTIs de 91,8%, com seis leitos livres.
Cruz Alta
Na região de Cruz Alta, a avaliação é de que a curva de novas contaminações dá sinais de que estabilizou em patamar elevado. Apesar de algumas variações negativas nas curvas, elas ainda não se configuram como queda.
— A curva de casos parou de crescer, está em uma aparente estabilidade. Bem como as internações por covid-19 em leitos clínicos, que têm aparência de estabilização — aponta Suzi.
— Em Cruz Alta, parece que chegamos a um pico. Dá para ver um freio e uma estabilização. Quando as medidas dão o efeito esperado, a queda é consistente. Se a gente está vendo mesmo uma estabilização, muito provavelmente as medidas são parcialmente efetivas — aponta Schwartzhaupt.
A região de Cruz Alta, nesta quarta-feira, tem ocupação de UTIs de 88,1%, com cinco leitos livres.
Santo Ângelo
Com queda simultânea, ao longo dos últimos dias, tanto em casos quanto em internações, a região de Santo Ângelo é a região que colhe os resultados mais efetivos das cinco elencadas, nas três semanas de alerta.
— A região tem uma leve diminuição de casos nos últimos dias, mas ainda bastante picotado. Já as internações parecem refletir uma melhora — aponta Lucia Pellanda.
A avaliação é referendada pelo cientista de dados Isaac Schwartzhaupt, para quem o grande indicador positivo é a queda consistente nas internações ao longo de uma semana inteira:
— Nos leitos clínicos, há uma curva bonita. Quando temos assim uma semana de queda começamos a ter uma consistência. Eu diria que as medidas na região estão sendo parcialmente efetivas.
Ao todo, RS tem 14 regiões em alerta
Além das cinco regiões que entraram em alerta em 18 de maio, outras nove áreas do Estado receberam o comunicado mais grave de risco nos dias seguintes. O último alerta foi emitido nesta quarta, para a região de Bagé. Com isso, os prefeitos dessa região devem de imediato um plano de ação para frear o contágio. Em até 48 horas, as medidas precisam ser apresentadas ao governo do Estado.
Também estão em alerta as regiões de Caxias do Sul, Erechim, Palmeira das Missões, Pelotas, Santa Cruz do Sul, Santa Maria, Santa Rosa e Uruguaiana. Nenhum das regiões, até o momento, obteve melhora suficiente para ser retirada no nível de alerta, pela avaliação do gabinete de crise do governo do Estado.
Veja as datas em que cada região entrou em alerta
- Região de Cachoeira do Sul — em alerta desde 18/5/2021
- Região de Passo Fundo — em alerta desde 18/5/2021
- Região de Santo Ângelo — em alerta desde 18/5/2021
- Região de Cruz Alta — em alerta desde 18/5/2021
- Região de Ijuí — em alerta desde 18/5/2021
- Região de Uruguaiana — em alerta desde 20/5/2021
- Região de Santa Rosa — em alerta desde 20/5/2021
- Região de Palmeira das Missões — em alerta desde 20/5/2021
- Região de Erechim — em alerta desde 26/5/2021
- Região de Santa Maria — em alerta desde 26/5/2021
- Região de Pelotas — em alerta desde 26/5/2021
- Região de Caxias do Sul — em alerta desde 26/5/2021
- Região de Santa Cruz do Sul — em alerta desde 2/6/2021
- Região de Bagé — em alerta desde 9/6/2021