Prescrita em larga escala para diminuir a formação de coágulos em outras doenças, a aspirina teve seu uso investigado em pacientes com covid-19. O medicamento fez parte do estudo Recovery, que incluiu 15 mil pessoas hospitalizadas com a infecção causada pelo coronavírus e, portanto, com maior risco de formação de coágulos, especialmente nos vasos dos pulmões.
No total, 7.351 pacientes tomaram aspirina uma vez por dia. Eles foram comparados com outros 7.541 que receberam somente o tratamento padrão. Os resultados da pesquisa mostraram que não há evidências que os pacientes que receberam aspirina tiveram a mortalidade reduzida. Não houve diferença significativa no desfecho primário de mortalidade em 28 dias. Esses resultados foram consistentes em todos os subgrupos pré-especificados de pacientes.
No grupo que recebeu o medicamento, foi observada uma pequena redução na média de hospitalização: oito dias contra nove entre os que não tomaram a substância. Também não houve diferença significativa na proporção que progrediu para ventilação mecânica.
Peter Horby, professor da Universidade de Oxford e líder-adjunto do estudo destacou que, de acordo com essas evidências, o amplo uso da aspirina em indivíduos internados com covid-19 não se justifica. Martin Landray, que também é professor em Oxford e assina a pesquisa, lamentou os resultados.
— Há uma forte ideia de que a coagulação do sangue pode ser responsável pela deterioração da função pulmonar e morte dos pacientes com covid-19. A aspirina é barata e largamente usada em outras doenças para reduzir o risco de coagulação, então, é decepcionante não termos observado um grande impacto do medicamento nesses indivíduos. Esse é o motivo pelo qual grandes ensaios clínicos randomizados são tão importantes para estabelecer quais tratamentos funcionam e quais não.
Além da aspirina, o Recovery também testou a azitromicina, plasma convalescente, dexametasona, hidroxicloroquina, entre outros.