Em ritmo de vacinação superior à média estadual, Porto Alegre imunizou até esta quinta-feira o equivalente a 20% da população com as duas doses necessárias para garantir proteção máxima contra o coronavírus.
Na avaliação de especialistas em saúde e de gestores do município, esse patamar já poderá ter algum efeito benéfico sobre a internação de pacientes graves e o índice de mortes caso se confirme um repique da pandemia. Mas alertam que ainda é insuficiente para a população abrir mão de cuidados como distanciamento social e uso de máscaras.
Pelos registros do vacinômetro mantido pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS), a cidade já atendeu com o esquema vacinal completo 295,4 mil pessoas, o que corresponde a um entre cada cinco habitantes com anticorpos. Quando se inclui na conta quem recebeu apenas uma dose, a proporção de vacinados chega a um terço.
Em todo o Rio Grande do Sul, pelo painel de monitoramento da Secretaria Estadual da Saúde (SES), o equivalente a 12,6% da população gaúcha aparece com as duas injeções. Porém, não se deve comparar diretamente o dado da prefeitura e do Piratini — prefeituras conseguem abastecer mais rapidamente seus vacinômetros do que enviar as notificações completas que alimentam o painel estadual. Para essa segunda etapa, é preciso preencher informações mais detalhadas como as características de quem foi beneficiado (sexo, idade, grupo prioritário etc), o que demanda mais tempo.
Como há delay de alguns dias entre a inserção no painel municipal e no sistema estadual, para comparações desse tipo é mais adequado utilizar apenas os dados apresentados pelo site do Piratini. Por esse banco de dados, na quinta-feira a Capital aparecia com 16,8% de cobertura — ainda assim, acima da média gaúcha.
O bom desempenho em relação a outras localidades pode ser atribuído a diferentes fatores, como a facilidade de acesso garantida pela rede de unidades básicas de saúde, convênios com farmácias e realização de drive-thrus.
— Realizamos até três drive-thrus no mesmo dia, o que ajuda a vacinar com agilidade. Alguns, especificamente para segunda dose. A comunicação com o público e a mobilização dessas pessoas para se imunizar também são fundamentais — observa a diretora-adjunta da Vigilância em Saúde do município, Fernanda dos Santos Fernandes.
A cidade também contou com um primeiro lote de 32 mil vacinas da Pfizer que ficaram concentrados na Capital, em maio, em razão da maior complexidade de armazenagem e manejo.
Percentual ainda não garante imunidade coletiva
O percentual de 20% de pessoas com duas doses ainda está muito longe do necessário para conferir à população imunidade coletiva contra o coronavírus — algo estimado ao redor de 70%, cifra que pode variar conforme outros fatores como a eficácia das vacinas em uso e o nível de adesão das pessoas a medidas de prevenção como distanciamento social e uso de máscaras.
Mas essa proporção de imunizados já seria suficiente, na avaliação do epidemiologista e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Paulo Petry, para garantir maior proteção contra o agravamento da doença ao menos em uma fatia da população — que inclui indíviduos de alto risco como idosos e com doenças crônicas, mais sujeitos a complicações.
— Um estudo da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) mostrou redução de 50% na mortalidade das pessoas com mais de 80 anos com o avanço da vacinação, mesmo antes de se atingir um patamar de 20% de cobertura — aponta Petry.
O epidemiologista avalia que é esperado um menor nível de contaminação nos grupos prioritários já vacinados e, caso se contaminem, um menor risco de agravamento diante da ameaça de uma nova onda da pandemia em solo gaúcho.
A diretora-adjunta da Vigilância municipal revela que a prefeitura está realizando um estudo para avaliar o quanto a vacinação com duas doses já está protegendo o público-alvo beneficiado. O resultado deverá ficar pronto em mais alguns dias.
— Esperamos um impacto positivo em termos de agravamento e óbitos, mas devemos lembrar que estamos entrando no período de frio, quando já é tradicional ter aumento de doenças respiratórias, e de um pouco de relaxamento nas medidas (de restrição à mobilidade) — analisa Fernanda.