Em razão da queda nas internações provocadas pela pandemia, os principais hospitais de Porto Alegre estão reduzindo a estrutura destinada a atender casos de coronavírus enquanto retomam procedimentos eletivos como cirurgias sem caráter de urgência.
Instituições de referência a exemplo do Conceição, do Clínicas e da Santa Casa já diminuíram a quantidade de leitos para covid-19 e ampliaram outros atendimentos nas últimas semanas graças à menor pressão exercida pela doença em comparação a fevereiro e março.
O Conceição chegou a dedicar 87 leitos em unidades de terapia intensiva (UTI) para pacientes com coronavírus dois meses atrás. Agora, retornou aos mesmos 75 que tinha antes da mais recente e grave onda da pandemia no Estado. Salas de recuperação cirúrgica que haviam sido improvisadas para doentes críticos voltaram à função original. Na Emergência, 53 vagas foram resumidas a 19. Como resultado desses ajustes, foi possível retomar parte dos atendimentos a outras patologias que se encontravam represados.
— Dependemos de fatores como disponibilidade de leitos e estoque de medicamentos. Em abril, já conseguimos aumentar em cerca de 40% as cirurgias eletivas em comparação a março — afirma o presidente do Grupo Hospitalar Conceição (GHC), Cláudio Oliveira.
Ainda não foi possível, porém, recuperar o nível anterior de atendimento para os casos que não são de covid. Entre março e abril, as cirurgias eletivas e de emergência saltaram de 568 para 822, mas o hospital costumava realizar em torno de mil. Se a situação seguir melhorando, é viável recuperar o patamar de antes nas próximas semanas ou meses.
Outra instituição do GHC, o Cristo Redentor reduziu pela metade a estrutura covid. Os leitos de retaguarda (que recebiam doentes em recuperação, após a fase infecciosa da doença) foram ajustados de 20 para 10. Oliveira ressalta que um eventual novo agravamento da pandemia poderia reverter essa estratégia em prazo razoavelmente curto:
— Se for necessário, esperamos que não seja, voltamos a reconverter esses espaços para os doentes com coronavírus.
A Santa Casa também registrou uma redução significativa nas antigas alas covid. A instituição chegou a contar 146 vagas em UTI e 189 em outros setores para pessoas com coronavírus. Essa capacidade encolheu para 109 e 68 em meados de abril. Agora, há 76 leitos em UTI e 43 em alas de internação de menor complexidade.
Conforme a assessoria de comunicação do complexo, as agendas para consulta e procedimentos estão abertas, mas ainda respeitando medidas de segurança sanitária — há um maior intervalo entre horários de atendimento para evitar aglomerações, por exemplo.
O Hospital de Clínicas chegou a contar com 135 leitos de UTI para coronavírus utilizando espaços improvisados para dar conta da demanda, mas, nas últimas semanas, voltou aos 105 estabelecidos antes da recente onda de casos. Principalmente pela liberação das equipes de profissionais de saúde, a partir deste mês a quantidade de cirurgias eletivas vai subir 50% e chegar a cerca de 600 procedimentos. Em relação às vagas em nível clínico, a quantidade de leitos reservados à pandemia baixou de 82 para 32.
— Essa ampliação de 400 para 600 cirurgias no mês é possível principalmente pelo redirecionamento da força de trabalho, pessoal de enfermagem, anestesiologistas. Ainda assim, vamos ficar com aproximadamente 60% da nossa capacidade. Em junho, se as internações seguirem em tendência de queda, poderemos ampliar um pouco mais — afirma o diretor médico adjunto do Clínicas, Brasil Silva Neto.
Inicialmente, a retomada vai atender pessoas que já estão na fila de espera. Também aumentará a capacidade operacional da área cirúrgica ambulatorial, permitindo mais procedimentos de diagnóstico e tratamentos. O hospital estuda com a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) ampliar a quantidade de primeiras consultas à população.
Segundo a SMS, o Hospital de Pronto Socorro (HPS) deixou de atender covid-19 para voltar a se concentrar em sua função primordial de socorrer vítimas de trauma.
Internações recuam na Capital, mas seguem em nível alto
Apesar de eventuais oscilações, as internações hospitalares por coronavírus mantêm uma tendência geral de queda em Porto Alegre nos últimos dois meses. Comparado a apenas duas semanas atrás, o número absoluto de doentes com covid-19 recuou 31% nas UTIs e 20% nos leitos clínicos (veja no gráfico abaixo). Esse cenário segue o padrão visto recentemente no Estado, após ter alcançado picos de hospitalizações na metade de março.
O presidente do GHC, Cláudio Oliveira, afirma que até o momento não há sinais de reversão de progressivo esvaziamento dos leitos antes pressionados pela pandemia no município. Mas lembra que os hospitais ainda estão com taxas elevadas de ocupação. Nesta quarta-feira (12), uma média de 85% das vagas em UTI estavam em uso em todos os hospitais na Capital até as 15h.
— Quando olhamos para a porta de entrada do hospital e para as emergências, mantemos a sensação de redução. Mas continuamos com taxas altas de ocupação nas UTIs — observa Oliveira.
Como os pacientes graves costumam ficar várias semanas internados, a desocupação dessas alas de alta complexidade tende a ser mais lenta. Nesta quarta, havia 387 doentes em estado grave na Capital, contra 455 uma semana antes. Em relação aos leitos clínicos, a variação em termos absolutos foi de 359 para 324.