Crianças têm maior probabilidade de serem infectadas pelo coronavírus por adultos do que de transmitirem a doença para eles, aponta estudo coordenado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) feito em parceria com pesquisadores da Universidade da Califórnia e da Escola de Medicina Tropical e Higiene de Londres. As informações são do jornal O Globo.
O levantamento chamado A dinâmica da infecção de Sars-CoV-2 em crianças e contatos domiciliares numa comunidade pobre do Rio de Janeiro analisou dados de 323 crianças – de zero a 13 anos –, 54 adolescentes – de 14 a 19 anos – e 290 adultos. Ao todo, 45 crianças testaram positivo para a doença, ou seja, 13,9% do grupo.
Os cientistas se propuseram a investigar a transmissão da covid-19 na comunidade de Manguinhos, no Rio de Janeiro, entre os meses de maio e setembro de 2020. As conclusões mostraram que todas as crianças que testaram positivo para a doença haviam tido contato com adultos ou adolescentes com sintomas do coronavírus.
Em entrevista dada ao Globo, Patrícia Brasil, coordenadora do estudo, destaca, porém, que os dados se referem a um momento diferente da pandemia. Período em que o distanciamento social era maior do que o registrado agora e quando a variante P.1, mais transmissível e hoje dominante, não havia surgido.
Ao jornal, Patrícia disse que “não faz sentido manter as escolas fechadas com o restante da economia aberta”, mas ressaltou que a vacinação dos profissionais de educação “é essencial para a reabertura”.
No artigo, os cientistas defendem que a volta às aulas deve ser feita com a vacinação dos profissionais de educação, sem deixar de lado os cuidados de higiene, de distanciamento social e de uso de máscara.
Entrevistada pelo periódico, a epidemiologista da Fiocruz Marilia Sá Carvalho, que também assina o estudo, afirma que, sem estes cuidados, a reabertura das escolas aumentará a circulação do coronavírus.
Imunização ampla
É assinalado que, em países como o Brasil, ou seja, de alta incidência da covid-19, é preciso imunizar no mínimo 85% da população para se conter a pandemia. Porém, esse número só será alcançado com a inclusão de crianças no programa de vacinação. Já que, no Brasil, 25% da população têm menos de 18 anos. Quer dizer, mesmo com os adultos imunizados, as crianças podem prolongar a pandemia se não forem vacinadas, explica Patrícia.
A questão é que, atualmente, nenhuma das vacinas contra a covid-19 foi aprovada para este público. Elas não participaram dos ensaios clínicos por não integrarem os grupos prioritários. No entanto, os fabricantes de alguns dos imunizantes já iniciaram testes com crianças.
A vacina da Pfizer/BioNTech, que recentemente chegou ao Brasil, anunciou que pedirá autorização à agência reguladora europeia para vacinar, a partir de junho, a faixa etária entre 12 e 15 anos — que já recebe doses no Canadá. Além disso, vale destacar que a Pfizer espera para julho os resultados dos testes com o imunizante em crianças de cinco a 12 anos. Para setembro, por sua vez, estão previstos os resultados dos ensaios clínicos com bebês a partir de seis meses de idade, aponta o Globo.