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O analista de sistemas Rogério Maria, morador de Campinas, passou 68 dias internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) de um hospital da cidade, sendo 42 deles em coma, devido ao coronavírus. Após vencer a doença e receber alta, ele, que estava sem receber salário desde agosto, decidiu investir os pouco mais de R$ 30 que tinha na compra de um bolão da Mega Sena da Virada. Acertou cinco números e ganhou um prêmio de R$ 7.325,26.
Em entrevista à Rádio Gaúcha na manhã desta quinta-feira (18), o homem de 51 anos relatou a experiência com a covid-19 e contou sobre como foi ganhar na loteria em um momento tão delicado.
Rogério contou que estava sem receber desde agosto de 2020, quando seu pagamento passou a ser de responsabilidade do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) – por lei, a empresa não tem obrigatoriedade de pagar o salário do empregado com carteira assinada após o 16º dia de atestado.
— De lá para cá, o INSS pagou duas parcelas de cerca de R$ 480 e depois suspendeu, sem aviso prévio, sem explicações. Foram dezenas de tentativas por telefone e até presencial, eu não consegui obter respostas. Eu tinha uma reserva e essa reserva acabou em dezembro, eu já estava em casa, em processo de recuperação.
No dia 31 de dezembro, o analista de sistemas acordou decidido a comprar um bolão da Mega Sena. Ele tinha pouco mais de R$ 30 na carteira e resolveu arriscar tudo.
— Fui até a lotérica em que costumo ir e eu falei para as meninas: “ou vocês me dão um bolão em que eu ganhe, porque eu não tenho nem mais um centavo para janeiro, ou vocês me compram um peru para eu fazer a ceia de hoje à noite, porque eu não tenho também”. Comprei três bolões, gastei cerca de R$ 31 e deixei aqui em casa — recordou.
Rogério acompanhou o sorteio no mesmo dia, mas não conferiu os resultados. Em 2 de janeiro, ele fez a conferência e entendeu que havia acertado quatro números. No entanto, ao chamar o filho mais novo para ajudá-lo a conferir uma segunda vez, viu que, na verdade, havia acertado cinco dezenas.
— Eu gelei! O número que faltava estava no jogo de baixo, que era o número 17, ou seja, se estivesse na linha de cima eram cerca de R$ 90 milhões (o prêmio), talvez eu estivesse nas Maldivas, dando entrevista de lá — brincou ele.
O analista de sistemas calculou que o prêmio daria em torno de R$ 5 mil e chegou a comentar com a esposa que, caso o valor fosse um pouco maior, iria “salvar” o mês de janeiro:
— Quando cheguei na Caixa, para minha surpresa tinha esses R$ 2 mil a mais, bem certinho, exatamente o que precisava para salvar o mês de janeiro, por isso que eu falo que Deus existe, ele não vira as costas e aparece na hora que você mais precisa.
Período de internação
Em relação ao período no hospital, Rogério contou que recebeu alta em 28 de setembro, mas que ainda está em recuperação e tem diversas sequelas. Ele relatou também que teve muitos pesadelos durante o coma e que recorda que a primeira semana após acordar foi muito ruim, pois teve sonhos e alucinações pesadas.
Durante o tempo em que o analista de sistemas passou internado, a esposa dele foi chamada duas vezes para se despedir no hospital, pois acreditavam que Rogério teria poucas chances de sobreviver. Ele explicou que Iracema ficou sozinha em casa, porque os dois filhos estavam afastados para diminuir a possibilidade de contaminação pelo vírus.
— Ela ficou sozinha em casa e recebeu uma ligação à noite dizendo “dona Iracema, pode vir aqui, vem ficar com o seu marido, que ele não passa de hoje”. Entendo que não deve ter sido fácil para minha família e isso aconteceu duas vezes. Então, quando eu comecei a retomar os sentidos, a coisa que mais me doía era imaginar o sofrimento que eles tiveram. A saudade dos meus filhos era monstruosa, mas eles devem ter sofrido muito ao imaginar que eu talvez pudesse não voltar mais — comentou, emocionado.
Rogério ainda pediu para que as pessoas não desdenhem da doença:
— Eu estava lá, estava dormindo, estava em coma, tive meu sofrimento pós-coma, mas o que as pessoas que gostam de mim e que torcem por mim passaram de sofrimento eu não desejo para ninguém – disse. — A pergunta que eu deixo é: vocês estão preparados para carregar um caixão com seu filho ali dentro porque desdenhou da doença e ficou em um happy hour após o trabalho, falando “isso não pega em ninguém, só pega no vizinho”? As pessoas que pensam dessa forma estão preparadas para carregar um caixão do seu filho, do seu pai, da sua mãe, da sua avó, por sua culpa e carregar isso para o resto da vida? — questionou.