A macrorregião de saúde dos Vales atingiu o esgotamento no uso dos ventiladores mecânicos, decisivos para a respiração de pacientes graves da covid-19 internados em UTIs. Na tarde desta sexta-feira (5), às 15h07min, a taxa de ocupação dos equipamentos na região era de 98%. Dos 149 aparelhos disponíveis nas UTIs dos hospitais, 146 estavam em uso.
A atualização das 16h07min do mapa de leitos da Secretaria Estadual da Saúde (SES), abastecido com informações em tempo real, foi ainda mais dramática: havia 163 pacientes utilizando respiradores, enquanto as UTIs dispunham de 149, alcançando taxa de ocupação de 109,4%. Em geral, as demandas excedentes são contornadas com remanejos de equipamentos de outros setores das casas de saúde.
Na região dos Vales, a mais sobrecarregada do Rio Grande do Sul no quesito respiradores, estão circunscritos municípios como Santa Cruz do Sul, Lajeado, Venâncio Aires, Cachoeira do Sul, Caçapava do Sul e Estrela.
A situação é crítica, por exemplo, no Hospital Bruno Born, em Lajeado: conforme o mapa de leitos da SES, na tarde desta sexta-feira, pacientes da instituição ocupavam 42 respiradores, mas as UTIs de caráter adulto dispunham de 34 aparelhos. A taxa de ocupação estava em 123,5%.
Já no Hospital Santa Cruz, em Santa Cruz do Sul, 28 enfermos utilizavam ventiladores mecânicos nesta sexta, frente à disponibilidade de 25 aparelhos nas UTIs adulto da instituição, uma taxa de ocupação de 112%.
A reportagem contatou a SES solicitando entrevista sobre o esgotamento dos aparelhos na macrorregião dos Vales, os eventuais riscos de ocorrerem óbitos por insuficiência de estrutura e as providências a serem tomadas para suprir a demanda, mas a pasta se manifestou com o envio de uma nota, via assessoria de imprensa.
“A região dos Vales está muito tensionada, assim como outras regiões do Estado. A SES distribuiu 16 respiradores para os hospitais de Encantado, Lajeado, Estrela e Taquari. No entanto, neste momento, reforçamos que o que mais precisamos é frear a transmissão do vírus para reduzir a contaminação, pois não há sistema de saúde que dê conta do aumento exponencial de casos”.
A secretaria ainda alertou para a hipótese de estouro da capacidade de forma mais generalizada.
“Há risco de esgotamento, pois o número de pacientes confirmados e suspeitos de covid-19 está em crescimento exponencial. Além de já ter comprado e distribuído 200 camas, 200 respiradores e 200 monitores para instituições hospitalares, a SES está providenciando a compra de mais 60 monitores, 60 respiradores e 57 camas para equipar leitos existentes ou abrir novos. O Ministério da Saúde também está enviando respiradores de transporte para dez hospitais da Região Metropolitana e interior”, informou a SES.
A pasta também enviou manifestação por escrito da secretária da Saúde, Arita Bergmann: “Como liberamos esta semana R$ 17,4 milhões para municípios em gestão plena, eles podem usar esses recursos inclusive para locar equipamentos, de acordo com a necessidade”.
Em Porto Alegre, a ocupação de ventiladores pulmonares era de 68,6% no mapa de leitos das 15h07min desta sexta. Dos 991 aparelhos, 680 estavam em uso. Apesar da margem existente, o diretor de Atenção Hospitalar da Secretaria Municipal da Saúde (SMS), João Marcelo Fonseca, classifica o atual quadro como “preocupante”. Ele explica que nem todos os pacientes internados em UTI necessitam do ventilador mecânico. Alguns estão em estágio anterior da doença, sob risco de necessidade do auxílio respiratório, e outros encontram-se em fase de pré-alta do tratamento intensivo, quando o respirador não é mais necessário. O desafio se dá, contudo, pela constante ampliação de leitos de UTI em Porto Alegre, operação que é feita para tentar reduzir a fila de pacientes graves que precisam de cuidados intensivos.
— Apesar de temos um número grande de ventiladores e de não estarmos usando 100% deles o tempo inteiro, a expansão de leitos tem sido intensa, ficamos cada vez mais estreitos na folga que é preciso ter destes equipamentos, para não sermos surpreendidos. Estamos comendo as sobras que tínhamos — alerta Fonseca.
Diante do quadro, a prefeitura de Porto Alegre reenviou nesta sexta-feira um ofício ao Ministério da Saúde, após realização de ajustes de conteúdo, solicitando a remessa de mais ventiladores mecânicos, entre outros equipamentos de tratamento intensivo.
Por macrorregiões, depois da colapsada área dos Vales, a disponibilidade dos ventiladores mostrava-se mais dramática na Serra, com 86,4% de comprometimento da estrutura nesta sexta. No Rio Grande do Sul, considerando o somatórios de todas as regiões, a taxa geral de ocupação de respiradores era de 74,3%