"Eu vou para a UTI, só não tem vaga em lugar nenhum. Amo vocês." Essa foi a última mensagem enviada por Valéria a Giulia, sua filha de 23 anos, três dias antes de morrer em decorrência do coronavírus em Esteio, na última terça (2), aos 42 anos.
As mensagens trocadas por WhatsApp foram compartilhadas pela garota no Twitter e viralizaram rapidamente. Em entrevista ao programa Gaúcha Mais nesta sexta (5), Giulia e a irmã Nathalia, de 22 anos, contaram a história da mãe.
— Último dia que vi minha mãe foi na segunda, dia 15 — contou Giulia. — Ela ia e voltava dos médicos. A primeira tentativa foi num posto, mas ela disse que o atendimento não foi muito bom. Depois ela foi na UPA (Unidade de Pronto Atendimento), melhorou a saturação, voltou pra casa. Ela piorava, melhorava, e ficou nisso. Aí no sábado não deu mais e ela foi internada.
Valéria, que era diabética e asmática, foi internada em uma emergência de Esteio no dia 20 de fevereiro. Nesse momento, ela conseguia trocar mensagens com a família.
— Ela estava sempre muito preocupada com a situação aqui fora. Ela se preocupava muito de como a gente estava, porque a minha avó positivou pra covid neste sábado, e eu moro com a minha avó, e a pequena também. A Nathi ficou tocando os negócios e o pai ficou cuidando a mãe no hospital, mas sem ter contato com ela.
No dia 27 de fevereiro, Valéria teve a primeira necessidade de entubação. No entanto, em meio ao esgotamento dos serviços de saúde no Rio Grande do Sul, a família não encontrou um leito de UTI disponível.
— Realmente, não tinha leito. A gente tentou (no) Litoral, (em hospital) particular, mas só tinha em Santa Maria e ela não iria aguentar a viagem. Aí o hospital fez o possível pra equipar o leito dela. Na segunda-feira, o meu pai conseguiu ver ela pelo vidro, ela mandou beijinho, estava aparentemente bem. Só que no dia seguinte, quando ele foi levar um suquinho pra ela, os médicos já não deixaram. As duas da tarde veio a ligação do hospital pedindo pra gente ir lá e informando que ela havia falecido.
Segundo as filhas, Valéria se cuidou ao longo de toda a pandemia. Eles acreditam que a mãe contraiu o vírus durante um atendimento na sorveteria da qual era dona.
— Ela sempre trabalhou muito e não queria fechar a loja, que era a única fonte de renda dela — relataram as irmãs.
Mesmo com os cuidados adotados pela comerciante, elas contas, os clientes nem sempre usavam máscaras.
— As pessoas se recusavam, se ofendiam — disse Nathalia, que assumiu a sorveteria após a mãe adoecer.
Fazer uma postagem contando o que ocorreu com Valéria foi uma forma de Giulia dar visibilidade à necessidade de as pessoas se cuidarem durante a pandemia. Além disso, a mãe havia expressado o desejo de relatar a realidade dos hospitais.
— Minha mãe já tinha comentado comigo que ela tinha o planejamento de fazer vídeos pra mostrar a realidade do hospital, o que acontecia lá dentro — disse a garota. — Foi uma forma de cumprir o desejo dela.