A compra de vacinas contra covid-19 por empresas não inviabilizará o cronograma de imunização previsto pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A posição foi defendida pelo empresário Carlos Wizard em entrevista ao Timeline, da Rádio Gaúcha, na manhã desta sexta-feira (5). Segundo ele, não há intenção de “furar a fila". As doses seriam oferecidas gratuitamente aos trabalhadores, sem seguir a lista de prioridades definidas pelo governo federal.
Na avaliação do empresário, a vacina é a solução para o enfrentamento da crise sanitária decorrente da pandemia. No entanto, ressaltou que o setor privado precisa e quer ter a autonomia de adquirir os imunizantes diretamente dos fornecedores.
Wizard relatou que está à frente de diversas empresas, com um total de aproximadamente 50 mil colaboradores no Brasil, e que tem a intenção de comprar a primeira e segunda dose para cada um, mesmo que esse investimento custe em torno de R$ 5 milhões:
— Estou disposto a tirar esse valor do bolso, comprar essas 100 mil doses, porque eu acredito que vai ser mais barato gastar R$ 5 milhões em vacinas do que deixar as lojas fechadas, os trabalhadores em casa, a economia parada. O Brasil parou e isso não interessa a ninguém.
Segundo o empresário, o impasse diante da iniciativa é que existe um projeto de lei definindo que o setor privado tenha a autonomia de compra somente depois que todas as pessoas do grupo prioritário estiverem imunizadas. Wizard disse também que questionou o Ministério da Saúde sobre o tempo necessário para vacinar essa população, e obteve como resposta “todo o primeiro semestre de 2021”.
— Nada impede o governo de fazer o trabalho de imunização que faz por meio do SUS e que os empresários, as redes de farmácias e os laboratórios ofereçam paralelamente a vacina para a população que não quer esperar até o segundo semestre do ano. Uma iniciativa não inviabiliza a outra, porque o SUS já tem a sua programação de compra, distribuição e aplicação — defendeu.
O empresário citou ainda que o grupo teve sua primeira vitória na quinta-feira (4), quando a Justiça Federal do Distrito Federal autorizou que um sindicato que representa os motoristas de aplicativo de Brasília adquira doses do imunizante diretamente do fornecedor para aplicar em seus filiados.
Compra das vacinas
Questionado sobre como o grupo compraria as vacinas, que estão em falta para muitos países, Wizard garantiu que seu grupo está atento a esse aspecto e afirmou que se trata de uma questão temporária e momentânea:
— Arrisco dizer que logo vai estar sobrando vacina no mercado, porque os grandes países, as grandes potências mundiais, estão trabalhando dia e noite no desenvolvimento dos imunizantes.
Posição do governo
Para o empresário, existe boa vontade e disposição política por parte do ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, para liberar a aquisição, distribuição e aplicação de doses pelo setor privado. No entanto, a legislação impede que isso aconteça.
Wizard afirmou que fez contato com o presidente Jair Bolsonaro pedindo uma flexibilização da legislação, mas salientou que, para isso acontecer, não basta a intenção e o sim do presidente, pois há um extenso arcabouço jurídico e amparo legal relacionado.
— Nós queremos apelar para todos os Poderes que apoiem essa iniciativa de permitir que a sociedade civil organizada tenha acesso à importação, à distribuição e à aplicação da vacina. Se nós não nos unirmos como sociedade, vamos ficar reféns desse vírus e talvez até perder 2021, só vamos nos livrar dessa situação em 2022 — finalizou.