A suspensão dos testes clínicos da vacina chinesa CoronaVac anunciada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) na noite de segunda-feira (9) gerou muitas dúvidas e repercussão entre os mais diversos órgãos de saúde. Na manhã desta quarta-feira (11), de posse de informações enviada por comitê independente, a agência autorizou a retomada.
Em entrevista ao programa Timeline, da Rádio Gaúcha, nesta manhã, o secretário-executivo do Centro de Contingência do Coronavírus do governo de São Paulo, João Gabbardo, afirmou que a interrupção foi um desserviço para todos os brasileiros.
Para o secretário, a Anvisa errou ao tratar um tema de tamanha relevância como algo menor, considerando que o anúncio da suspensão foi feito à noite, antes da reunião marcada para mais esclarecimentos. Gabbardo também citou a rapidez com que a agência fez a análise das informações antes de tomar a decisão, considerando “inusitado” que eles tenham conseguido ler todos os relatórios.
— O lógico e racional seria (primeiro) marcar a reunião para mais informações, porque não ia acontecer nada durante a noite, ninguém seria vacinado, não prejudicaria ninguém. Se eles não ficassem satisfeitos com as informações prestadas, aí sim poderiam tomar a decisão que achassem mais conveniente — disse.
Segundo ele, a ação prejudicou todo o país e irá prejudicar muito a pesquisa, porque tira a vontade das pessoas de participar e deixa os voluntários inseguros. O secretário acredita que houve alguma interferência no trabalho técnico que a Anvisa estava desempenhando:
— Acho que alguém defendeu que tinha um lado que podia ser explorado politicamente e ultrapassou todas as prerrogativas que Anvisa tem para determinar uma ação mais dura.
Em entrevista coletiva na tarde de terça-feira (10), a agência negou qualquer interferência política e disse que atuou conforme pregam os protocolos internacionais: paralisar imediatamente os testes em novos voluntários em casa de evento adverso grave inesperado em algum participante.
O órgão disse ainda que as informações enviadas pelo Instituto Butantan eram incompletas e que só liberaria a retomada depois de relatório de comitê independente, o que acabou ocorrendo nesta quarta-feira.
Baseado na posição de três comitês que avaliaram o caso, Gabbardo defendeu que não existe a possibilidade de que a vacina tenha relação com a morte registrada. O secretário pontuou que a pessoa tomou a vacina quase 30 dias antes do evento e que o medicamento poderia ter algum efeito adverso nas primeiras 24 ou 48 horas, mas não depois de tantos dias:
— O comitê científico que faz toda a análise ética das pesquisas do Hospital das Clínicas de São Paulo entende que esse evento não tem a menor possibilidade de estar relacionado à vacina. O Comitê Nacional de Ética em Pesquisas (Conep) também teve o mesmo posicionamento: não existe nenhuma relação do fato ocorrido com a vacina. E, por último, o comitê internacional, que também analisou os dados e deu o mesmo posicionamento. Então, baseado neles, eu posso dizer que não existe essa possibilidade da vacina tomada em determinado dia causar esse efeito quase quatro semanas depois.
Gabbardo afirmou ainda que a situação gera uma insegurança de forma injusta e que somente a Anvisa, “em duas horas de análise da documentação”, entendeu que deveria suspender a vacina.
— Acho que foi realmente um desserviço para todos nós aqui no Brasil — lamentou.
Resultados da vacina
O secretário também falou sobre os resultados da CoronaVac até o momento, destacando que o medicamento tem se mostrado muito seguro nos estudos e na avaliação de segurança. Segundo ele, os efeitos colaterais apresentados pelos voluntários são leves e os mais comuns são cefaleia, febre baixa e dor no local da injeção — que ocorre tanto na aplicação da vacina quanto na aplicação do placebo.
Gabbardo finalizou explicando a fase 3 dos testes, que verifica a eficácia da vacina e ressaltando que os participantes dos testes serão acompanhados durante um bom tempo, com o intuito de adquirir mais respostas e saber por quanto tempo existe a imunidade.