A revelação da apresentadora Cristina Ranzolin de que está em tratamento contra o câncer de mama, feita durante a edição do Jornal do Almoço desta quinta-feira (12), exibido na RBS TV, reforça o alerta para que as mulheres façam os exames que possibilitem o diagnóstico precoce da doença.
Cristina explicou que foi diagnosticada durante exames de rotina na semana passada e já iniciou a quimioterapia.
— É um tumor pequeno, de pouco mais de um centímetro, mas de um tipo agressivo, que precisa de tratamento sério — ressaltou.
A apresentadora lembrou ainda da importância da prevenção contra a doença – inclusive para quem não tem ocorrências na família, como o seu caso. Conforme especialistas, 87% das mulheres com a doença não têm qualquer parente de primeiro grau com câncer de mama. Só entre 5% e 10% dos casos são hereditários.
De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), o câncer de mama é o mais incidente em mulheres no mundo, representando 24,2% do total de casos em 2018, com aproximadamente 2,1 milhões de novas ocorrências. É a quinta causa fatal por câncer em geral (626.679 óbitos) e a mais frequente de morte pela doença em mulheres.
No Brasil, o câncer de mama é o mais incidente entre as mulheres, após o de pele não melanoma, e mortífero. Foram e 17.572 mortes em 2018, dado mais recente consolidado pelo Inca. Para 2020, foram estimados 66.280 casos novos – ou 61 para cada 100 mil habitantes. No Rio Grande do Sul, a previsão é ainda mais alta, de 69,5 para cada 100 mil habitantes. Em Porto Alegre, sobe ainda mais: 81,8 para cada 100 mil.
— Apesar de a incidência ser muito elevada, o diagnóstico precoce por mamografia aumenta as chances de cura em 95%. É essencial incluir esse exame na rotina — explica a mastologista do Grupo Oncoclínicas, Marcelle Morais dos Santos.
O procedimento consegue identificar uma lesão que ainda não seja palpável. O adequado, via de regra, é que mulheres acima de 40 anos realizem a mamografia uma vez ao ano. Em casos em que há fatores de alto risco, como hereditariedade, a rotina deve começar mais cedo e pode envolver outros tipos de exames. Isso irá variar conforme a orientação médica para cada paciente.
O autoexame também é importante para evitar que a doença seja identificada apenas em um estágio avançado. Pelo menos uma vez ao mês é recomendável realizar o apalpamento dos seios e observar formações como mamilos invertidos ou mudança na coloração.
— A experiência de uma mulher com diagnóstico de câncer de mama é única e pode se tornar muito menos traumática e alcançar maior sucesso quando o diagnóstico do tumor ocorre antes — reforça Maira Caleffi, presidente voluntária do Instituto da Mama do Rio Grande do Sul (Imama) e chefe do serviço de mastologia do Hospital Moinhos de Vento.
Pandemia reduz consultas
Especialistas alertam que neste ano o número de consultas e diagnósticos de neoplasias teve uma redução drástica por conta da covid-19. Isso porque, em razão da pandemia, as pessoas estariam evitando ir ao médico e fazer os check-ups, que muitas vezes são fundamentais para o diagnóstico precoce.
Conforme o Painel-Oncologia do Ministério da Saúde, com dados do Sistema Único de Saúde (SUS), o número de casos diagnosticados de câncer tombou 57% no acumulado dos primeiros nove meses deste ano no Rio Grande do Sul, na comparação com o mesmo período do ano passado. Os diagnósticos caíram de 3.138, entre janeiro e setembro de 2019, para 1.327 no intervalo de 2020.
— Isso é grave. Muitos diagnóstico vão ser feitos em estágios mais avançados da doença, não conseguiremos oferecer tratamentos tão eficazes. Teremos mais mulheres morrendo de câncer de mama, que poderia ter sido identificado precocemente — alerta Marcelle.
Na Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, o número de mamografias realizadas sofreu redução de 40% entre janeiro a setembro deste ano. No mesmo período, as consultas para câncer de mama caíram 33%. No Hospital Moinhos de Vento, também na Capital, a queda foi ainda maior, chegando a 80% em alguns meses da pandemia. Se for feita a média de janeiro a setembro deste ano, a quantidade de mamografias realizadas caiu 62% na instituição.
A redução dos diagnósticos também se reflete nos procedimentos médicos. A Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO) indica que 70% dos procedimentos para retirada de tumores malignos deixaram de ocorrer em abril. Já a Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) aponta que, nos meses de abril e maio, nos grandes centros hospitalares de oncologia, houve uma queda de 75% no movimento cirúrgico em comparação a 2019.
Sobre a doença
Conforme o Inca, o câncer de mama é uma doença causada pela multiplicação desordenada de células nessa parte do corpo. O processo gera células anormais que se multiplicam, formando um tumor.
Há vários tipos de câncer de mama. Por isso, a doença pode evoluir de diferentes formas. Alguns tipos têm desenvolvimento rápido, enquanto outros crescem mais lentamente. Esses comportamentos distintos se devem a característica próprias de cada tumor. O câncer de mama também acomete homens, porém é raro, representando apenas 1% do total de casos da doença.
Existe tratamento para câncer de mama, e o Ministério da Saúde oferece atendimento por meio do SUS.