Dados do Google Trends, ferramenta de análise de tendências do buscador, mostraram que o termo “dor nas costas” bateu recorde de procura no site durante a pandemia no Brasil. Desde 26 de fevereiro, quando o país registrou o primeiro caso de coronavírus, a busca pela expressão aumentou 76%.
Apesar de ser considerado um problema comum – que afetará cerca de 70% da população ao menos uma vez na vida –, o crescimento de casos preocupa especialistas e está relacionado principalmente às adaptações feitas em decorrência do distanciamento social. Marcelo Fagundes, fisioterapeuta do Centro de Reabilitação da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), explica que a musculatura da coluna está mais suscetível a lesões, pois é ela que faz as relações neurológicas do corpo:
— É por ela que passam todas as informações que vão e que vêm para qualquer parte do corpo: músculos, articulações e ossos. Todas as estruturas são enervadas e mandam e recebem estímulos da coluna.
Segundo Malgarino Roncato, médico ortopedista e traumatologista do Hospital Moinhos de Vento, também há alguns fatores de risco que aumentam a predisposição a problemas na coluna, como genética, idade, posturas viciosas, sobrepeso e perda de massa muscular. No entanto, para os especialistas, o aumento dos relatos de dor nas costas durante os meses de pandemia tem três principais motivos: a saúde emocional, a falta de exercício físico e o excesso de tempo sentado em frente ao computador.
Fagundes esclarece que o corpo humano tem um sistema nervoso autônomo sobre o qual as pessoas não têm controle. Ele é composto de um sistema simpático (estressor) e um sistema parassimpático (de relaxamento). Quando alguém sente medo, preocupação ou nervosismo, ativa o estressor, que libera hormônios que deixam o corpo com uma tensão muscular aumentada.
— Então, quando temos esses sentimentos hoje em dia, que podem estar relacionados à pandemia, nosso corpo faz isso. E, quando ocorre de uma forma crônica, constante, pode nos dar muitos prejuízos, gerando dor — afirma o fisioterapeuta.
A saúde emocional também afeta o sono, o que pode piorar ainda mais o problema de dor nas costas:
— O sono vai contra o sistema estressor, é o sistema de relaxamento, o momento em que a pessoa vai recuperar o corpo, relaxar os músculos, em que os hormônios vão ser opostos aos do sistema estressor. Então, a privação de sono é um reforço para o aumento de dores.
De acordo com Roncato, os relatos de dor, tanto na lombar quanto na cervical, têm crescido inclusive entre os adolescentes. Para ele, essa questão está diretamente ligada ao sedentarismo, considerando que as academias permaneceram fechadas por muito tempo e as pessoas pararam de fazer atividades físicas, aumentando, consequentemente, o sobrepeso.
— O sedentarismo, o sobrepeso e a perda de massa muscular em tempos de pandemia pioram ainda mais a condição de saúde — alerta o médico.
Dicas para evitar o problema
Faça atividades físicas regularmente
Os exercícios são extremamente importantes para o metabolismo do corpo. Fagundes afirma que as pessoas que fazem atividades físicas dormem melhor, têm um sistema de reparação melhor, hormônios trabalhando de uma forma mais equilibrada e ganho de mobilidade no corpo.
— A privação (da atividade) vai contra isso, não tem esse reequilíbrio metabólico e o corpo vai ficando cada vez mais travado, o que predispõe à dor e ao desconforto — explica.
Faça pausas durante o expediente
A postura sentada é prejudicial à coluna, pois altera a posição correta durante um período muito longo, o que leva ao sofrimento e desgaste dos discos da coluna, ressaltam os especialistas. Por isso é importante fazer pausas a cada uma hora de expediente para alongar e movimentar o corpo.
— Orientamos que as pessoas se levantem e deem uma volta, mesmo que seja ao redor da mesa de trabalho — enfatiza Roncato.
Corrija a postura e alinhe o monitor
Quem trabalha sentado durante muito tempo precisa corrigir a postura, utilizando uma cadeira que tenha um apoio adequado para a lombar. Além disso, o monitor deve ficar na altura correta para que a pessoa não precise olhar para baixo.
Tenha um apoio para braços e pés
A cadeira ideal também precisa ter apoio para os braços. É importante ainda não deixar os pés soltos e ter onde apoiá-los.
— Essas correções de postura durante o trabalho auxiliam na redução de dor e problemas desse tipo — afirma Fagundes.
Procure ajuda especializada
Caso a pessoa sinta dores fortes e persistentes, será preciso procurar um profissional especializado. Roncato salienta a importância de investigar a origem do problema com exames específicos, para então fazer um tratamento adequado, e não tentar resolvê-lo com automedicação.
— As pessoas costumam tomar anti-inflamatórios, mas esse medicamento não é inofensivo, ele pode prejudicar os rins, o fígado e o estômago, por exemplo. O remédio ajuda naquele momento, mas não resolve o problema. Por isso, as pessoas devem procurar um serviço especializado, fazer exames físicos e investigar bem — orienta.
Produção: Jhully Costa