Bióloga e professora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), a porto-alegrense Luciana Tovo Rodrigues, 35 anos, é uma das sete vencedoras do concurso nacional Para Mulheres na Ciência, promovido pela L'Oreal junto à Unesco Brasil e à Academia Brasileira de Ciências.
Para viabilizar uma pesquisa sobre o estresse de adolescentes na pandemia, a pesquisadora receberá R$ 50 mil do programa, que tem como objetivo transformar o ambiente científico favorecendo a equidade de gênero. A cerimônia virtual de premiação será realizada em outubro.
— É uma felicidade que quase não cabe em mim. No meio da pandemia, dá esperança de que as coisas melhorem um pouco — diz Luciana.
Doutora em Genética e Biologia Molecular, Luciana conduzirá sua pesquisa com adolescentes de 15 e 16 anos. O Programa de Pós-Graduação (PPG) em Epidemiologia da UFPel acompanha, desde os primeiros anos de vida, em torno de 4,2 mil indivíduos nascidos em 2004. Trata-se de um projeto que envolve pesquisadores ligados ao PPG que conduzem pesquisas diversas com verbas originárias de outras fontes.
A ideia, desde o princípio, é compor um retrato amplo desse grupo — analisando aspectos de saúde, socioeconômicos, sociais e demográficos, entre outros — ao longo das décadas. O recorte específico com o qual Luciana trabalhará envolve avaliação do estresse crônico medido a partir do hormônio cortisol presente no cabelo. Como o cortisol do sangue se deposita nos fios, é possível descobrir a variação dos níveis no organismo a partir de pequenas amostras de cabelo, que são lavadas, moídas, submetidas à extração do hormônio e depois quantificadas.
Pouca atenção foi dada a esses adolescentes por não estarem em grupo de risco ou não serem economicamente ativos. Como essa etapa da vida é importante principalmente para a saúde mental, e o estresse está muito relacionado à saúde mental, foi o que me estimulou a entender o que estava acontecendo.
LUCIANA TOVO RODRIGUES
Bióloga e professora da UFPel
O chamado para cerca de 1,9 mil voluntários do grupo original começou em novembro passado para que fossem avaliados quesitos como saúde mental, hábitos de vida, comportamento alimentar, atividade física, composição corporal e pressão arterial, e também para que se pudesse coletar uma porção de cabelo de cada um — este é o elemento biológico escolhido para a etapa atual do grande levantamento.
Com o coronavírus, as atividades tiveram de ser suspensas. Surgiu então a ideia específica de investigar o estresse na adolescência durante a pandemia, tema ainda pouco explorado cientificamente no mundo, segundo a professora.
— Pouca atenção foi dada a esses adolescentes por não estarem em grupo de risco ou não serem economicamente ativos. Como essa etapa da vida é importante principalmente para a saúde mental, e o estresse está muito relacionado à saúde mental, foi o que me estimulou a entender o que estava acontecendo — conta Luciana.
Dois grupos serão comparados. O primeiro é formado pelos cerca de 1,9 mil participantes que atenderam ao chamado do PPG em Epidemiologia no final de 2019. Para o segundo, a expectativa é conseguir reunir entre 1,4 mil e 1,5 mil outros participantes do grande grupo ainda não avaliados. Está sendo analisada a forma como isso será feito, dadas as dificuldades e restrições impostas pela disseminação do coronavírus.
— Os níveis de cortisol são relacionados a problemas de sono, obesidade, hipertensão e saúde mental, como depressão e ansiedade. Se conseguirmos estabelecer, do ponto de vista fisiológico, como o cortisol está atuando durante a pandemia, poderemos entender algumas doenças que podem surgir no futuro — explica a vencedora.