Não é apenas nas Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) de Porto Alegre que o coronavírus vem dando mostras de desaceleração. Outros níveis de atendimento também registram uma menor pressão da pandemia em comparação a semanas anteriores, o que pode facilitar a volta da Capital à bandeira laranja do sistema de distanciamento controlado do governo estadual e a novas flexibilizações — mas há obstáculos para isso ocorrer já nesta rodada do modelo de distanciamento controlado.
O sinal mais visível da desaceleração do vírus continua sendo nas UTIs, onde o número de doentes internados entrou em tendência de leve declínio a partir da primeira semana de setembro. Depois de bater o recorde de 347 hospitalizações nos dias 2 e 4, nesta quinta-feira (17) foi observada a menor demanda desde 23 de julho, com 294 leitos ocupados. Na média dos últimos sete dias, houve uma queda de 8,5% em comparação com a semana anterior.
Por trás de iniciativas como a proposta de retomar as aulas a partir de 5 de outubro, conforme proposta apresentada pelo prefeito Nelson Marchezan na segunda-feira (14), estão outros índices monitorados pela Secretaria Municipal da Saúde (SMS).
— Não são apenas as UTIs. Todos os indicadores que nós acompanhamos neste momento são positivos, como internações em leitos de enfermaria, atendimentos nas unidades de saúde e variação de casos ativos — sustenta o secretário adjunto da SMS, Natan Katz.
Os dados oficiais indicam que a média diária de hospitalizações em leitos de enfermaria (que podem provocar uma pressão posterior sobre UTIs) recuou 9,5% na última semana. Na porta de entrada do sistema, a procura por atendimento em unidades de saúde em razão de sintomas compatíveis com síndrome respiratória ou gripal encolheu ainda mais: 44%.
Uma das possibilidades cogitadas pela SMS para esse cenário é o crescimento da proporção de pessoas menos suscetíveis ao vírus por já terem se contaminado e recuperado. A diminuição da gravidade favorece uma eventual volta da bandeira laranja na cidade, mas, conforme o doutor em matemática e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Álvaro Krüger Ramos, embora isso não seja impossível, é "pouco provável" imediatamente:
— Critérios que levaram a região à bandeira vermelha, como número de hospitalizações ou disponibilidade de leitos livres de UTI, estão muito acima do patamar que teria de ser alcançado para uma mudança de bandeira.
Além disso, pelas regras do sistema gaúcho, a mudança não depende apenas da Capital, mas do comportamento da pandemia em uma região mais abrangente. Ramos considera que seria mais provável a Capital melhorar de nota no quesito que envolve o número de casos ativos (com manifestação da doença no momento).
— Nesse caso, a Capital ficaria no limite da bandeira vermelha. Em um eventual recurso, provavelmente conseguiria passar para a bandeira laranja — cogita Ramos.
O professor da UFRGS faz um alerta: apesar dos dados mais favoráveis, é muito cedo para deixar cuidados com higiene de lado ou exagerar nas flexibilizações.
— Ainda estamos em uma fase da pandemia com patamar alto de novos contágios, e os sinais de desaceleração de novos casos ainda são muito recentes — afirma o matemático, que realiza estudos sobre o impacto da pandemia.
Natan Katz reconhece que o aumento na circulação de pessoas pode levar a uma maior incidência da covid-19, embora o cenário, hoje, seja melhor do que em meses anteriores. Por isso, diz que flexibilizações sempre serão precedidas por análises do panorama no momento.
— A situação sempre pode mudar, mas estamos otimistas — resume o secretário adjunto.