Os últimos dias trouxeram um pouco de alívio aos gaúchos no combate à pandemia de coronavírus. Depois de um longo período de crescimento acelerado no número de pacientes graves e de óbitos, a covid-19 deu indícios preliminares de uma possível estabilização nesta semana no Rio Grande do Sul.
A média de novas mortes calculada para os sete dias anteriores caiu 14% nesta sexta-feira (14) em comparação com o período anterior e confirmou uma tendência de desaceleração iniciada na terça-feira (11).
Especialistas alertam que o prazo de análise ainda é curto para tirar conclusões de que o Estado estaria passando pelo pico da doença. Também será preciso acompanhar o eventual impacto de recentes flexibilizações nas regras de isolamento social sobre o grau de contágio para verificar em que direção apontará a curva epidemiológica.
Por enquanto, depois de semanas de crescimento na média móvel de óbitos (assim chamada porque sempre leva em consideração os dias anteriores), de segunda para terça-feira esse número recuou de 57 para 53 e, desde então, segue em declínio. Nesta sexta, chegou a 49,8 (veja gráfico com os dados completos).
— Nos últimos dias, estamos vendo uma recente tendência de estabilização de óbitos, mas o período ainda é pequeno para fazermos afirmações mais categóricas. Um eventual atraso nas notificações ainda poderia trazer oscilações importantes — analisa o epidemiologista Ricardo Kuchenbecker, gerente de Risco do Hospital de Clínicas.
As internações em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) ainda aumentam no Estado se for considerada a soma de pacientes em atendimento, mas Kuchenbecker observa que isso pode ser provocado pela demora que a covid-19 impõe para os portadores do vírus terem alta. Um indicativo mais preciso do andamento da pandemia seria verificar o número de novos pacientes em tratamento intensivo a cada dia.
Nesse caso, há indícios de desaceleração. A média móvel calculada sobre a variação diária na quantidade de internações, e não sobre a soma dos doentes, confirma uma menor pressão sobre o Estado — cenário que pode ser revertido em caso de aumento nas contaminações. Por esse critério, a média diária de acréscimo nas internações ficou em 2,3 nos últimos sete dias, contra 3,9 no período anterior.
— Estamos imaginando que os números (da pandemia) mais ou menos se estabilizaram no Estado, mas em um patamar mais elevado do que nós gostaríamos. Será importante ver qual será o efeito das recentes flexibilizações principalmente a partir do Dia dos Pais (9 de agosto). Um eventual impacto poderá ser sentido por volta de 20 de agosto. Esperamos que não aconteça — analisa o infectologista Eduardo Sprinz, chefe do Serviço de Infectologia do Clínicas.
O patamar elevado de uma possível estabilização se reflete nas UTIs de Porto Alegre, por exemplo, onde até as 16h desta sexta-feira havia 339 doentes hospitalizados em estado grave e em meio a uma taxa geral de 89% de ocupação.
— Para os números baixarem, será fundamental que a população adote os cuidados básicos como lavar as mãos, manter o distanciamento social e usar corretamente a máscara — alerta Sprinz.
O número de casos, diferentemente das mortes e internações diárias, segue em elevação no Rio Grande do Sul. Mas esse indicador, conforme Ricardo Kuchenbecker, pode estar relacionado a um maior nível de testagem adotado nos municípios gaúchos.