A fonoaudióloga Giovana Bulgaron, 26 anos, não pensou duas vezes quando recebeu um e-mail que buscava voluntários para o início dos testes da vacina contra o coronavírus. Ela está entre as centenas de pessoas da equipe médica do Guy's and St Thomas' Hospital, em Londres, que se apresentaram para testar a vacina ChAdOx1 nCoV-19, desenvolvida pela Universidade de Oxford, e que também será testada no Brasil.
— Foi muito rápido. Respondi o e-mail numa segunda-feira e na terça já tive retorno — lembra Giovana, que nasceu em Campinas, interior de São Paulo, e mora em Londres há um ano.
A jovem verificou que atendia aos critérios, como não estar grávida ou planejando ter filhos em breve, apresentar um bom quadro de saúde, não ter sido infectada com a covid-19 e ter tido contato com infectados — e ela teve, com seus pacientes.
Giovana conversou com o marido e começou o processo em 8 de junho.
— Não tive medo. Qualquer vacina, mesmo uma licenciada, poderia ter um efeito colateral. Mas os riscos são muito baixos. Eles também falaram que, a qualquer momento, se eu não me sentisse confortável com o teste, poderia parar, então me senti segura — diz.
A calma da fonoaudióloga não se deve apenas por ela ser da área da Saúde e estar ciente do processo. Segundo a jovem, tudo foi muito bem detalhado antes que os testes começassem.
— Eles me deram vários papéis, passavam vídeos explicativos o tempo todo na sala de espera e perguntavam se eu tinha dúvidas. Bom, eu sou saudável e alguém vai ter que se arriscar.
Há três semana em testes, Giovana já esteve em dois atendimentos no St. Thomas' Hospital. No primeiro, ela assinou os documentos, foi entrevistada e fez exames de sangue e urina. No segundo, os mesmos exames foram feitos e ela tomou a vacina em seguida.
— Fiquei um pouco mal no dia seguinte, com dor de cabeça, dor no braço e indisposta, mas isso é normal e esperado.
De agora em diante, ela fará testes de covid-19 em casa semanalmente e enviará pelos correios para a equipe responsável — o primeiro resultado já chegou por SMS na quarta-feira (24) e veio negativo.
— Vou seguir com minha vida normal e, caso eu tenha os sintomas, preciso avisar eles o mais rápido possível — diz.
Em Londres, onde Giovana mora, as medidas de desconfinamento estão sendo gradualmente adotadas por conta da diminuição de casos. Comprometida com os testes durante um ano, a jovem resolveu compartilhar a experiência em seu perfil no Instagram, o @giipelomundo. Ela diz filtrar o que fala para não interferir na integridade do estudo e revela que o público tem dado um retorno positivo pela abordagem do tema.
— Há quem fale que estou fazendo parte da História. Não tenho essa noção. Sou participante de um estudo e sei que estou ajudando de alguma forma, mas o mérito não é meu, é de quem está fazendo o estudo. Isso é algo muito maior — reflete Giovana.
A fonoaudióloga está animada com o início das testagens no Brasil e torce para que a situação melhore logo no país, para onde deve vir em dezembro.
— Quando tudo isso acabar, quero viajar e socializar — declara.
Em São Paulo, profissionais da saúde de 18 a 55 anos que atuam na linha de frente do combate à covid-19 e trabalhadores de ambientes de alto risco de contaminação foram selecionados. Segundo a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), os rígidos padrões da Universidade de Oxford vão garantir que o acompanhamento dos pesquisadores brasileiros seja muito próximo dos voluntários.
O Brasil é o primeiro país fora do Reino Unido a iniciar a testagem da vacina e a Unifesp reitera a importância em fazer parte dessa missão.