A ocupação das unidades de tratamento intensivo (UTI) de Porto Alegre por coronavírus cresceu levemente nesta sexta-feira (24). Há 295 pessoas internadas — nove a mais do que no dia anterior. É um recorde desde o início da pandemia.
Uma relativa estabilidade no crescimento das internações se desenhava ao longo desta semana, o que levantou expectativas sobre a chegada ao platô (ou seja, pico da epidemia, seguido de manutenção no número de novas internações). Por duas vezes na semana, o número de internações fora o mesmo do dia anterior.
Analistas pediam cautela antes de qualquer conclusão porque, afirmavam, é preciso esperar ao menos sete dias para assegurar que o cenário não é momentâneo. A ocupação de leitos de UTI subiu de 88,2% na quinta para 88,8% nesta sexta-feira. Até o fim da tarde, eram 7.033 casos confirmados de coronavírus (3,7 mil recuperados) e 257 óbitos em Porto Alegre.
A médica epidemiologista do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) Jeruza Neyeloff lembra que a curva de lotação de UTIs pode chegar a um momento de pouca variação simplesmente porque não há mais uma grande quantidade de leitos disponíveis no sistema.
— Mantemos a lotação máxima dos leitos covid e com dificuldade de atender a todos os pedidos de leito que chegam ao hospital. Na prática, qualquer hospital que trabalha com 95% de lotação não consegue receber pacientes — afirma.
Para Vanessa Schultz, médica infectologista do Controle de Infecções do Hospital Mãe de Deus, a estabilidade provavelmente era momentânea. Ela cita que, na instituição, houve 14 internações na última noite— normalmente, varia entre cinco e, no máximo, 10.
— Há um cenário preocupante, no sentido de que as UTIs estão bastante ocupadas. Ainda há leito para ocupar, mas, se continuar o aumento no número de casos, não teremos mais disponibilidade de leitos. Não está tranquilo, porque, daqui a pouco, vamos ter que operacionalizar leitos de sala de recuperação e de bloco cirúrgico para covid. Isso afeta não só o paciente com coronavírus — diz.
A Secretaria Municipal da Saúde (SMS) começou a disponibilizar, na quinta-feira (23), a fila de pessoas que estão na emergência dos grandes hospitais e que estão à espera de uma vaga na UTI da instituição.
Contudo, a fila real é maior: os números não mostram o número de pessoas internadas em Unidades de Pronto-Atendimento e hospitais menores da Região Metropolitana e que necessitam de vaga em UTIs de grandes hospitais porto-alegrenses.
Ainda assim, apesar do aumento, a velocidade de crescimento da ocupação de leitos intensivos está reduzindo nas últimas três semanas, afirmou em entrevista a GaúchaZH o secretário-adjunto da Saúde de Porto Alegre, Natan Katz.
Na primeira semana de julho, o tempo médio para que o número de internados em UTIs dobrasse era de 16 dias. Na semana seguinte, aumentou para 21 dias e, na última semana, cresceu para 27 dias. Ele credita isso às medidas de restrição implementadas pela prefeitura.
Mas, a exemplo de outros analistas, Katz afirma que não há como afirmar que a cidade chegou ao platô e que é preciso esperar mais alguns dias para avaliar se isso é, de fato, uma tendência.
— Olhando a foto de hoje, os indicadores sugerem que temos menor velocidade de crescimento das UTIs porque há menor ocupação e a fila de espera não cresceu. Há mais casos novos, mas ampliamos a testagem. Não podemos dizer ainda que há platô, a curva não está reta. Mas, nos últimos dias, ela está inclinando para baixo — comenta Katz.