Mais de 93% dos porto-alegrenses mortos pelo coronavírus tinham alguma doença crônica ou condição que fragilizava sua saúde. Alguns males, no entanto, são mais fatais para os acometidos pela covid-19. Quase 60% tinham problemas cardíacos, mais de 37% sofriam de diabetes e 22,6% tinham pneumopatias (doenças que atingem os pulmões, como bronquite, asma e enfisema).
Os dados são da Vigilância Epidemiológica da Secretaria Municipal da Saúde (SMS) e foram compilados a pedido da reportagem de GaúchaZH. O recorte foi feito considerando os 292 moradores da Capital mortos pelo coronavírus desde o início da pandemia até 27 de julho.
As cardiopatias, como doenças cardiovasculares e hipertensão, atingiam 173 das vítimas fatais da covid-19. Cento e nove óbitos foram de pessoas com diabetes e 66 de pacientes com histórico de pneumonia. A totalidade passa de 292 (ou 100%) porque alguns pacientes tinham mais de uma comorbidade.
— São dados que reforçam o alerta para que pessoas que tenham estas doenças redobrem os cuidados, mantendo os tratamentos de saúde e buscando orientações médicas — orienta Benjamin Roitman, médico da Vigilância Epidemiológica da SMS.
No grupo das cardiopatias, a hipertensão é a condição mais mortífera, conforme o especialista. Doença que atinge 25% da população brasileira, conforme o Ministério da Saúde, pode fragilizar o coração para a ação do vírus, causando sua inflamação (a miocardite). Nesse caso, pode haver insuficiência ou alteração cardíaca, explica Roitman. Além disso, existe preocupação de que alguns medicamentos para pressão alta possam estimular os receptores pulmonares ao vírus, mas a hipótese ainda é inconclusiva.
Luciano Goldani, infectologista do Hospital de Clínicas de Porto Alegre, esclarece que no caso do diabetes, alguns estudos mostram que o organismo tem uma resposta imunológica mais exacerbada quando se depara com o vírus, liberando uma “tempestade de toxinas” e causando graves inflamações.
— Isso explica porque pacientes nesta condição têm maior risco de ter complicações com a covid-19 — reforça o médico.
Os dados da SMS mostram que muitos dos mortos por coronavírus tinham hábitos prejudiciais à saúde. Quase 6% eram fumantes e 7,5%, obesos. Outras condições de risco relevantes encontradas pela Vigilância são doenças neurológicas (identificadas em 21,6% dos óbitos), imunodepressão (16,4%), neoplasia (16,4%) e doença renal crônica (13%). São estatísticas alinhadas a pesquisas realizadas na Europa, China e nos Estados Unidos, explica Goldani.
— Cada vez fica mais claro que, depois da idade, as comorbidades são o segundo principal fator de risco. Mesmo pessoas abaixo de 60 anos, mas que tenham doenças crônicas, precisam manter cuidado — sugere.
Dos porto-alegrenses vitimados desde o início da pandemia, 254 (83,6%) tinham mais de 60 anos. Roitman acrescenta que são poucos os jovens e sem comorbidades que tiveram complicações após serem infectados — apenas dois vieram a óbito, conforme o controle municipal. Entretanto, avisa que o dado não deve levar a população fora dos grupos de risco a baixar a guarda:
— Mesmo sendo jovem, a pessoa precisa se cuidar, pois o risco de complicação pelo coronavírus é real e vale para todos. Além disso, algumas pessoas podem ter comorbidade e nem saber.