A diretora do Instituto para a Saúde Global da Universidade de Siena, Sue Ann Costa Clemens, afirmou nesta quinta-feira (4) ao Gaúcha+ que o fato do Brasil estar participando da terceira etapa dos testes da vacina contra o coronavírus no Reino Unido é algo a ser comemorado. Não só porque, de acordo com ela, imuniza parte da população, como também porque é um reconhecimento de que o país tem "qualidade de pesquisa e agência regulatória séria". Segundo a diretora do instituto, na fase inicial serão 2 mil voluntários recrutados, mas a pretensão é aumentar para 5 mil.
— Eu acho que a gente tem que ficar feliz por vários motivos. Um porque a gente está participando de uma pesquisa, a gente já tá vacinando antecipadamente parte da nossa população. Porque 5 mil, eu sei que o Brasil tem milhões de habitantes, mas 5 mil não é um número insignificante. E mostra a qualidade do nosso profissional e do nosso sistema de pesquisa — defendeu. — A gente tem a condição agora de participar de um estudo tão importante. É uma das vacinas mais avançadas. Depois do Brasil, dois países na África estão em processo de aprovação, um país na Ásia e os Estados Unidos.
De acordo com a diretora, foi anunciado primeiramente o recrutamento de 2 mil voluntários porque era o número com o qual havia sido feito o orçamento. Além disso, é necessário conseguir os dados de vacinação o quanto antes para compor um dossiê de registro a ser apresentado no Reino Unido até o final do ano. Esclareceu, porém, que ainda é necessária a aprovação das agências regulatórias para que a vacina seja aplicada. Além disso, é obrigatório um comitê de monitoramento de segurança independente acompanhando as pesquisas.
— No Reino Unido, uma vez aprovada, eles aplicam. Mas em outros países seria após. Se aprovou no Reino Unido, já aplica no Reino Unido. E aí as outras aprovações dependem da agência regulatória do país — explicou. — O Brasil já tem boa parte desses dados e está seguindo desde a fase 1 (a pesquisa). Acredito que sendo aprovado lá, a aprovação aqui seria rápida para meados do ano que vem, e com a aprovação já teríamos a aplicação (da vacina) — estimou.
Além disso, Sue Ann afirmou que, posteriormente, há possibilidade de o Brasil e diversos países produzirem a injeção localmente. Mesmo assim, ressaltou, uma única injeção não vai ser suficiente no mundo inteiro, mesmo com as produções locais.
Ouça, abaixo, a entrevista completa:
Embora a diretora tenha explicado que não tem permissão para dar uma previsão de quanto a injeção irá custar, lembrou que — conforme já anunciado publicamente pela Oxford — ela deve ser vendida a preço de produção. Em comparação, disse que pode ser mais barata que a vacina da gripe comum no Brasil.
Também afirmou que não é possível dizer por quanto tempo os anticorpos vão persistir no corpo humano e se será necessária, por exemplo, uma dose anual. Entretanto, garantiu que a maneira como está sendo produzida a vacina não fará com que o paciente seja infectado pela covid-19.
— Existem diferentes tipos de vacinas, diferentes plataformas, e essa plataforma utiliza uma tecnologia em que um vírus não infeccioso serve de carreador par ao coronavírus que foi modificado. Foi retirada uma parte do coronavírus, que é uma proteína, e ele não infecciona. Isso é injetado no ser humano e aí o sistema imunológico promove uma resposta, gerando anticorpos ao coronavírus — explicou.