Nem mesmo as madrugadas de policiamento na rua, as perseguições a criminosos e o temor de um tiroteio representaram susto parecido com o que fez o coronavírus na vida do soldado David Nei Brum Dutra, 41 anos. Morador de Sapiranga, no Vale do Sinos, o policial militar ficou 13 dias, sendo 10 em coma, internado em uma unidade de tratamento intensivo (UTI) em razão da covid-19.
O soldado deixou a UTI na última sexta-feira (26), sob o aplauso da equipe médica que o cuidou no Hospital da Brigada Militar. Na tarde desta segunda-feira (29), já considerado curado mas ainda em tratamento, ele conversou com GaúchaZH e detalhou o que sentiu no período da doença, desde o primeiro sintoma ao dia em que pensou que morreria.
O diagnóstico
O soldado sentiu os primeiros sintomas no dia 6 de junho: uma dor de cabeça que ia e voltava. Ele estava de serviço na noite daquele dia e foi trabalhar normalmente.
— Na madrugada já do dia 7, comecei a me sentir não tão bem. Informei meu superior que iria na UPA. Estava com um pouquinho de febre e fui orientado a voltar no dia seguinte no posto para fazer o teste da doença — contou o soldado.
No dia seguinte, 8 de junho, o soldado realizou o exame com recolhimento da saliva para verificar se havia sido infectado pelo coronavírus, mas o exame não retornou com brevidade. Ainda com dor de cabeça e febre, o policial ficou em casa, sem a certeza se estava ou não com a doença. Três dias depois, em 11 de junho, a situação piorou.
— Meu quadro se agravou. Não conseguia mais respirar. Cada vez que tossia, não conseguia puxar o ar. Falei para a minha mulher em casa: me leva para o hospital que eu estou muito mal. O teste rápido foi feito e constatado: realmente, eu estava com covid-19 — comentou.
Internação
Ainda na noite de 11 de junho, o soldado foi internado no Hospital de Sapiranga, na ala da emergência. Em um primeiro momento, ele foi informado que não havia leitos de internação na UTI. Na tarde de 12 de junho, o soldado foi levado para o Hospital da Brigada Militar, em Porto Alegre.
— Fui atendido por toda a equipe. Me sentia bem mal. Já me sedaram, entubaram e eu fiquei nisso oito dias em coma induzido — avançou Dutra.
Após oito dias em coma, o agente começou a ser reacordado. O policial só acordou por completo no 10º dia após chegar ao hospital. Ainda foram outros três internados na UTI, sob monitoramento constante.
Só no dia 26 de junho o policial pôde ir para um quarto. Segundo os médicos que o atenderam no Hospital da Brigada Militar, ele está agora curado.
— O que restaram foram sequelas no pulmão devido ao tempo que fiquei em coma induzido. Eles dão remédios fortes para o corpo apagar e o aparelho trabalhar melhor. Nisso tu perde massa muscular, teu pulmão fica trabalhando com a máquina e fica preguiçoso. Preciso agora reaprender a respirar — diz Dutra.
Após cura, fisioterapia
O policial agora está fazendo fisioterapia para fortalecer os músculos e retomar a respiração. Ele sente dificuldade para caminhar e falar durante longos períodos.
Sem doença prévia, o militar com histórico de atleta credita ao longo tempo entre o primeiro sintoma e a internação a sua piora no quadro de saúde. Seu colega de viatura também testou positivo para doença, mas sentiu somente febre e nenhum sintoma mais grave. Morando na mesma casa, a esposa do policial e os dois filhos não tiveram a covid-19.
O policial não sabe como contraiu o vírus, mas lembrou que estava na rua e lidava com presos, em delegacias, e também os levando para hospitais antes das prisões.
Já curado, o soldado manda uma mensagem para as pessoas que não tiveram a doença causada pelo coronavírus:
— Cuidem-se. Protejam-se. A coisa é seríssima. Só quem passa pelo que passei pode testemunhar o que é essa doença. É coisa horrível. Me senti horrível, tive medo de morrer.
Segundo a Secretaria da Segurança Pública, 46 policiais militares estão com a doença no Rio Grande do Sul - a tropa é de aproximadamente 17 mil. Ainda de acordo com a pasta, outros 45 já se recuperaram.