Pessoas que tiveram coronavírus e que testam positivo para o vírus algumas semanas após a recuperação não estão reinfectadas, diz a Organização Mundial da Saúde (OMS). Em entrevista à rede BBC nesta segunda-feira (4), Maria Van Kerkhove, líder técnica da OMS para covid-19, explicou o porquê dos resultados dos testes e também falou sobre imunidade após a infecção.
Conforme Maria, durante o processo de recuperação dos pulmões, células mortas emergem e acabam sendo detectadas pelos testes moleculares (PCR).
— Não são vírus ativos, não é reinfecção, não é reativação. É, na verdade, parte do processo de cura que tem sido capturado pelo PCR — explicou.
Mas não há consenso sobre o assunto na comunidade médica. José Cássio de Moraes, professor da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, destaca que há uma quantidade elevada de estudos publicados diariamente sobre o assunto, e ainda não se chegou a uma resposta sobre casos de reinfecção.
— Com as informações que temos, não se pode afirmar que tenha reinfecção e nem que não tenha. Precisamos ver qual é a dimensão da reinfecção e se é suficiente para produzir um volume grande de casos. Aparentemente, é encontrada em algumas situações, quando não se tem certeza se os testes feitos foram adequados ou não — ponderou o docente.
Anticorpos e imunidade
Após descartar os indícios de reinfecção, a epidemiologista da OMS também falou sobre a possibilidade de se estar protegido após sofrer com covid-19. Segundo Maria, o que se sabe é que, sim, o corpo produz anticorpos. No entanto, ainda não se pode afirmar que há imunidade.
— Isso significa que há uma grande proteção contra reinfecção? E, se sim, quanto tempo essa proteção dura? Nós não temos a resposta para isso agora — falou Maria ao canal britânico.
A vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunologia (SBI), Karina Bortoluci, explica que anticorpos não são sinônimo de imunidade, mesmo que as hipóteses levantadas até agora indiquem uma possibilidade de proteção.
— Temos algumas evidências de que uma proteção imediata esteja acontecendo, mas é imediata para esta cepa e este local — disse Karina, dando como exemplo as mutações genéticas do vírus que circula no Brasil em relação ao que circulou na China.
— Não sabemos se adquirir anticorpos vai ser suficiente para proteger contra uma grande carga viral — completou.
Anamélia Lorenzetti Bocca, professora titular na área da Imunologia da Universidade de Brasília (UnB), lembrou que há alguns indicativos que apontam que a imunidade após infecção por Sars-Cov-2 (nome do coronavírus que causa a atual pandemia) seja parecida com a de outras síndromes respiratórias conhecidas, como a Síndrome Respiratória do Oriente Médio (Mers) e a Síndrome Respiratória Aguda Grave (Sars). Segundo a pesquisadora, nessas outras doenças, foi observada uma proteção de dois anos. Após esse período, houve diminuição dos anticorpos.
Contudo, em um território de incertezas, Karina destaca que a possível imunidade adquirida não carimba um passaporte para a livre a circulação.
— Liberar a população significa que você vai, antes de ter pessoas imunes, ter muita gente desenvolvendo a patologia grave de uma só vez, fazendo os sistemas de saúde entrarem em colapso. Antes de sair a vacina, honestamente, a gente vai viver momentos de isolamento e não isolamento — ressaltou Bortoluci.