Enquanto o número de casos de coronavírus segue subindo em Porto Alegre – já são 232 confirmados, segundo balanço estadual –, a cidade também vai percebendo a evolução de casos de recuperação da covid-19. Segundo balanço da prefeitura, 38 pacientes já estão recuperados da doença – foram 11 novos registros desde quarta-feira (1).
A maior parte é composta por homens: são 25, com idades que variam entre 18 e 71 anos. Dentre eles, seis têm mais de 60 anos.
Já no grupo de pacientes do sexo feminino, o total de recuperadas chega a 13, com idades entre cinco e 66. São duas com mais de 60 anos.
No início da semana, a prefeitura chegou a divulgar que uma idosa de 90 anos havia se recuperado da doença. Nesta sexta-feira (3), no entanto, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) informou que foi um erro na divulgação e que ela segue internada.
Segundo o boletim epidemiológico da prefeitura, são consideradas recuperadas as pessoas assintomáticas (sem nenhum sintoma) há pelo menos 14 dias do início do quadro.
— É preciso 14 dias desde o início do quadro, e é necessário que não haja mais nenhum sintoma. A mensagem importante que tiramos desses dados é que, como os casos não têm aumentado de forma tão rápida, dá tempo de as pessoas se curarem, e outras, adoecerem — explica o secretário de Saúde da Capital, Pablo Stürmer.
Internações
Levantamento enviado pela SMS à GaúchaZH aponta que, do total de recuperados, pelo menos três precisaram de internação.
Um deles é um homem de 66 anos, com doença cardiovascular e asma, que tem histórico de viagem para os Estados Unidos. O outro é um homem de 37 que esteve em Bento Gonçalves, embora isso não tenha sido confirmado como motivo do contágio – não foi informado se ele tinha doenças crônicas.
O terceiro caso que necessitou de internação e, mesmo assim, recuperou-se, é de um homem de 63 anos. Não foi informado se ele tinha histórico de viagem ou doenças que o colocassem no grupo de risco.
Dos 38 casos de recuperação, em sete a prefeitura não informou se eles necessitaram ou não ser internados.
Dificuldade no levantamento de dados
A reportagem solicitou dados referentes ao perfil de cada caso de recuperação. Foi questionado se os pacientes tinham histórico de viagem ou doenças crônicas, que sintomas apresentaram e quando melhoraram, além da necessidade de internação.
Para muito itens, no entanto, as informações não foram preenchidas. Segundo a SMS, cada atendimento – seja em hospital, posto de saúde ou consultório particular – gera uma ficha do paciente. Estes dados nem sempre são preenchidos, o que faz com que a prefeitura tenha dificuldade de concluir o levantamento.
Em todos os casos, os pacientes recebem uma ligação para saber como estão e se não têm mais sintomas. A atualização no sistema, porém, é feita de forma lenta devido ao acúmulo de trabalho dos profissionais de saúde.
Do total de recuperados, 10 têm histórico de viagem – a maioria para o Exterior. Outros oito não viajaram. Para 19 pacientes, os dados não foram informados.
Uso do termo “recuperados”
Inicialmente, a prefeitura optava por usar o termo “curados” para falar das pessoas que tiveram remissão total dos sintomas após determinado período. Há alguns dias, no entanto, adotou o uso da expressão “recuperados”.
— Acabamos nos adequando a uma nomenclatura internacional, mas não tem mudança na definição dos pacientes que entram nesta conta. O problema é que o uso de “curados” passa uma conotação mais milagrosa — diz o secretário Pablo Stürmer.
O infectologista André Luiz Machado da Silva, do Hospital Conceição, diz que é preciso cautela em dizer que uma pessoa está curada da doença. Segundo o especialista, ainda é difícil definir um critério de cura – apenas um exame poderia afirmar com certeza que não há mais a presença do vírus.
— Há relatos de reinfecção, e não se sabe se a pessoa que já pegou a doença realmente está imune. Os critérios adotados até agora são teóricos, porque a gente não sabe como é o comportamento em todas as pessoas. Para mim, o ideal seria contar 28 dias: 14 de isolamento com possibilidade de presença do vírus, e mais 14 sem sintomas.
Stürmer concorda que existam divergências, mas defende a adoção do critério:
— Se formos seguir o rigor, nunca vamos cravar uma resposta com precisão. Ao mesmo tempo, precisamos definir quando as pessoas vão voltar para as suas vidas, usando um critério com boa margem de segurança. Mas o ideal é que a pessoa recuperada continue evitando cumprimentos e aproximações desnecessárias.
Atualmente, só são coletados exames para pacientes internados e profissionais de saúde com suspeita da doença.