A suspensão de aulas nos colégios por causa do coronavírus impôs uma mudança imperativa na rotina das famílias. Sem atividades escolares, pais tiveram de buscar às pressas alternativas para garantir os cuidados aos filhos.
Primeiro refúgio de muitas famílias, os avós não são uma alternativa neste momento. Por serem o grupo de maior risco, idosos devem ser mantidos longe do convívio das crianças, recomendam autoridades de saúde.
— Na rede privada, a imensa maioria dos pais e das mães trabalha. Por isso, empregadores precisam entender que, em algum momento, os pais terão de ficar em casa. São pequenos sacrifícios agora para que não tenhamos de fazer um grande sacrifício depois — reconheceu o presidente do Sindicato do Ensino Privado do Estado (Sinepe-RS), Bruno Eizerik.
Mãe de dois meninos do Colégio Anchieta, que anunciou a pausa nas atividades entre os dias 18 e 30 de março, a pedagoga Elisa Lazzari irá consultar a disponibilidade da empregada doméstica para monitorar os filhos. Se a resposta for negativa, a saída será deixar Bernardo, aos 13 anos, tomando conta de Artur, de sete.
— Em uma semana, a vida está normal. Na outra, tudo virou de cabeça para baixo — sintetizou Elisa.
Nesta segunda-feira (16), a pedagoga correu ao supermercado para abastecer os armários de casa, mas sem exageros. Encontrou corredores lotados, consumidores com carrinhos abarrotados e carência de produtos que costuma comprar. Diabético e celíaco, Arthur deve se alimentar de arroz integral e alimentos sem glúten, mas alguns já estavam fora de estoque.
A servidora pública Ana Lúcia Baggio também terá as duas filhas em casa em tempo integral nas próximas semanas. As aulas de Bruna, 14 anos, serão trocadas pelos cursos online oferecidos pelo Colégio Israelita Brasileiro. Já a mais velha, Gabriela, 24, estudante da ESPM, está com as atividades universitárias paralisadas até 23 de março. E o estágio, apenas home office.
— Estou preocupada em conscientizá-las de que não são férias e de todos os cuidados que têm de ser tomados, inclusive com os avós — disse Ana Lúcia.
Professora de pedagogia da PUCRS, Rosane Zimmer orienta que se criem redes de cooperação, mas mantendo cuidado com aglomerações. Também sugere que os responsáveis pontuem às crianças o que está acontecendo, preservando o senso de comunidade e evitando a histeria.
— As famílias têm de pensar quem são os outros cuidadores da criança, como amigos e irmãos maiores, fazendo uma rede de apoio que a acompanhe, já que ela perceberá que a rotina foi totalmente mudada — afirmou Rosane.
Para barrar a fuga total da rotina, a pedagoga ainda aconselha a manutenção de regras, como horários para comer e dormir e o envolvimento dos pequenos em brincadeiras em família. Música e pintura são bem-vindos, mas sem a necessidade de "carga horária".
— Temos de nos preparar porque é bem provável que todos, em algum momento, tenhamos de desacelerar e nos recolhermos às nossas famílias. Terá sapiência quem souber conviver melhor — complementou.
Rede municipal
A prefeitura de Porto Alegre suspendeu as aulas nas redes pública e particular, a partir do dia 18, nos ensinos fundamental e médio, pelo período de três semanas. Para o ensino superior, determinou a paralisação a partir desta segunda-feira (16). Na educação infantil, decidiu manter as atividades. Prefeituras, como as de Canoas, Caxias do Sul e Santa Maria, entre outras, também adotaram medidas semelhantes.
Rede estadual
O governo do Estado interrompeu as aulas na rede estadual por duas semanas, começando na quinta-feira (19). Também recomendou que a rede privada seguisse o mesmo protocolo. Professores irão encaminhar atividades para que os alunos estudem em casa, uma vez que será impossível recuperar os dias perdidos do ano letivo por causa da greve do magistério do ano passado. A distribuição de merendas será mantida.
Rede privada
O Sindicato do Ensino Privado do Estado (Sinepe-RS) orientou que os estabelecimentos suspendam as atividades entre 19 de março e 2 de abril. A imensa maioria das escolas seguiu a sugestão, incluindo Americano, Santa Inês, Farroupilha, Rosário, Anchieta, João Paulo I, Bom Conselho, Concórdia, Dohms, Sinodal, Sesi, Senai, La Salle, Santa Dorotéia e Província de São Pedro. O Sindicato de Educação Infantil do Estado (Sindicreche-RS) sugeriu que as creches permaneçam abertas, mas algumas já avisaram pais que irão paralisar as atividades.
Faculdades e universidades
Ao menos 20 universidades e faculdades suspenderam aulas, sendo que algumas preparam aulas a distância. O período varia de acordo com o estabelecimento. Entre elas, UFRGS, UFSM, UFPel, UFCSPA, PUCRS, Unisinos, Ulbra, UCS e UPF.