Um pastor ligado à Catedral Global do Espírito Santo será o primeiro a prestar esclarecimentos à delegada Laura Lopes, titular da 4ª Delegacia da Polícia Civil de Porto Alegre, nesta quarta-feira, no inquérito instaurado para apurar atos da igreja. Por meio de um banner divulgado nas redes sociais, a Catedral anunciou que o culto de domingo (1º) teria uma bênção com unção para imunizar fiéis contra o coronavírus e epidemias. Até esta terça-feira (3), há 488 casos suspeitos de coronavírus no Brasil e dois confirmados em São Paulo. No Rio Grande do Sul, 82 casos são investigados.
Laura pretende conferir se há supostas práticas de charlatanismo durante os cultos do templo localizado na zona norte da Capital. Conforme a delegada, ações de charlatanismo podem ser punidas com detenção de três meses a um ano, além de multa. Nos próximos dias, ela pretende ouvir outras pessoas ligadas à igreja, incluindo os responsáveis, os apóstolos Silvio Ribeiro e Maria Ribeiro.
Na tarde desta terça (3), o apóstolo promoveu uma coletiva de imprensa com o objetivo de esclarecer os fatos. Acompanhado do advogado Rogério Moisés, Ribeiro inicialmente falou por 42 minutos ao vivo pelas redes da igreja e, na sequência, respondeu a cinco perguntas. Ele chegou a pedir perdão pela forma como abordou a doença. Questionado se não estaria desinformando os fiéis ao dizer no culto de domingo que "o sangue de Jesus e a mensagem do Cordeiro vão acabar com o coronavírus na Terra", ele demonstrou arrependimento.
— Se eu soubesse, realmente, que essa declaração fosse causar polêmica ou pânico ou agredir a medicina e os médicos, que dão a sua vida para ajudar o ser humano, eu jamais teria falado isso. Mas deixo bem claro que somente falei em defesa da minha fé e em defesa da palavra de Deus. E se houve isso, eu sei que para vocês possa ser chocante, eu peço perdão à medicina, à ciência e às leis. Eu peço perdão a todos e digo que a nossa intenção com este banner foi a melhor de todas: levar fé, esperança e amor para as pessoas — ressaltou.
Em sua defesa, Ribeiro falou que não é ele quem cura e é apenas um instrumento de Deus, como o médico também é. Ele explicou que decidiu abordar o tema no culto depois de perceber que os telejornais só falavam sobre a doença. Com relação ao inquérito instaurado, preferiu não se manifestar porque ainda não foi acionado pela Justiça. E garantiu que em 27 anos atuando como religioso, esta é a primeira vez que uma ação feita por ele vai parar na polícia:
— Depois de toda essa polêmica, eu só falo no coronavírus se, realmente, Deus mandar. Mas, com certeza, vou continuar labutando pela fé. Até tenho um vídeo, que nós vamos colocar nos autos, elogiando os médicos e elogiando a medicina.
No culto do domingo (1), de quase três horas, Ribeiro comentou por diversas vezes sobre a doença. Numa das situações, falou como se fosse outra pessoa dizendo a ele e debochando: "Mas unção com óleo vai curar coronavírus?". Logo depois disse que Deus pode curar tudo. Ele também relacionou a doença a uma das profecias do apóstolo João, descrita no livro bíblico Apocalipse.
Mapa do coronavírus
Acompanhe a evolução dos casos por meio da ferramenta criada pela Universidade Johns Hopkins: