Conhecendo a pequena cidade de Pescia, na região italiana da Toscana, o casal Daniella Poli Andreini, 52 anos, e Alessandro David Andreini, 50, moradores de Porto Alegre, relata que a epidemia do coronavírus tem alterado a rotina de italianos e turistas. Pescia, cidade natal de Alessandro, para onde o casal foi a fim de visitar a família dele, teve nesta terça-feira (25) o primeiro caso confirmado da doença.
— Esse caso suspeito foi a partir de uma senhora que tem a filha grávida e que precisaria ir ao hospital de Pescia. O marido também precisava fazer um exame, mas estavam com medo de entrar no hospital. A prefeitura, talvez para tentar evitar um alarme, um pânico, negou. E hoje o caso foi confirmado e a pessoa foi transferida para Pistoia (comuna italiana também na região da Toscana). Hoje fomos para a frente do hospital e tinha um aviso para quem tivesse sintomas de tosse, resfriado, febre: não entrar no hospital, e sim procurar um médico de família. É para evitar pessoas que já estejam com imunidade baixa sejam contaminadas — descreve Daniella.
O casal relata saber de casos próximos de pessoas que apresentam sintomas compatíveis com os de coronavírus, mas têm medo de procurar o médico e serem colocadas em quarentena. Assim, continuam levando uma vida normal.
— É claro que pode ser uma gripe comum, mas, enfim, é um outro fator: as pessoas têm medo de ser colocadas em quarentena. E não são só elas. Nesse caso de Pescia, as pessoas que tiveram contanto com o homem foram colocadas em quarentena, e isso significa parar a vida de muita gente. Nossa grande apreensão é que possam estar escondendo, como nesse caso. Que a gente possa, talvez, não estar tendo a real dimensão — teme Daniella.
Eles também destacam que estão vendo menos movimentação de turistas na Itália.
— Os moradores de Pescia, como os de vários outros locais, costumam fazer compras para casa em cidades vizinhas. Ir a bares também, para sair. Isso faz parte da rotina das pessoas. Mas o que a gente está vendo na circulação das estradas é praticamente só carros com placas da Itália. A gente não está vendo, como em todos os outros anos, carros de vários países da Europa. Não está acontecendo.
Também o comércio na região mudou muito com a escalada do coronavírus:
— O medo das pessoas vem aumentando. O movimento, que já era pequeno, em um restaurante desse complexo (referindo-se a um centro comercial) ficou zero. Sem clientes num domingo, que é o dia em que pais levam filhos para o cinema, fazem lanche. A gente acha que aqui pode muito facilitar a transmissão do vírus, porque a Itália é como se fosse uma imensa região metropolitana. O país é só um pouco maior do que o Rio Grande do Sul e várias cidades estão ligadas por ruas, por exemplo. Há um trânsito muito grande de pessoas porque é muito comum ter um domicílio e trabalhar em outros locais, estudar fora — diz Daniella.
Os preços de produtos, especialmente os utilizados na tentativa de evitar a contaminação pelo coronavírus, também têm aumentado muito.
— Máscaras que custam poucos euros estão sendo vendidas por 50 euros. Outras, mais sofisticadas, por 80 euros. É uma coisa completamente absurda.
O casal relata ainda que a situação está "normal" nos supermercados de Pescia, mas as emissoras de televisão do país têm noticiado que em cidades como Milão as prateleiras ficarem vazias "porque o pânico realmente está se instalando", explica Daniella.