O grupo de brasileiros e familiares que está em Wuhan, na China, desembarcará no país entre meia-noite e 1h de domingo (9) na base aérea de Anápolis, em Goiás, depois de três dias e meio de viagem. Eles pediram a repatriação devido ao temor pelo surto de coronavírus, que já matou mais de 600 pessoas na região asiática.
Duas aeronaves Embraer 190 cedidas pela Presidência da República para buscar os brasileiros decolaram da cidade chinesa às 17h30min (horário de Brasília) e farão escalas em Ürümqi, na China; Varsóvia, na Polônia; Las Palmas, na Espanha; Fortaleza e, finalmente, Anápolis. Serão resgatadas 34 pessoas, entre elas brasileiros e seus familiares chineses. No grupo, estão sete crianças (uma de dois anos, uma de três anos e cinco de sete a 12 anos) e três diplomatas. Os resgatados ficarão no hotel de trânsito da base de Anápolis por cerca de 18 dias para quarentena, embora, até o momento, não apresentem sintomas de coronavírus.
— É importante tranquilizar toda a população, principalmente de Anápolis e demais tripulantes, e informar que só embarcaram nas aeronaves pessoas assintomáticas, sem nenhum sintoma da doença. Durante a estada na base, eles permanecerão em seus alojamentos, mas sempre com máscaras cirúrgicas. Eles não são nem suspeitos da doença — informou Júlio Croda, diretor da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, durante coletiva de imprensa na base aérea de Anápolis.
Os 14 médicos da Aeronáutica e do Ministério da Saúde, oito tripulantes e dois profissionais de comunicação do governo que embarcaram no Brasil rumo a Wuhan para buscar os repatriados passarão por avaliação de risco na chegada. Apenas a partir desses exames será decidido se eles também permanecerão em quarentena.
Uma área isolada da Força Aérea Brasileira (FAB) com 900 metros quadrados abrigará as pessoas em cerca de 30 quartos duplos e individuais equipados com cama, televisão, armários e banheiro privativo. Também foram providenciados quartos com berços para famílias com bebês. No local, que se assemelha a um hotel convencional, há cozinha industrial, lavanderia e uma área ao ar livre para lazer, o que inclui mostra de filmes e camas elásticas para crianças. Uma pequena enfermaria foi montada para tratar problemas leves de saúde. A área externa é delimitada com bandeiras e gradis para que ninguém fora do staff entre no perímetro da quarentena.
Os militares não circularão entre os recém-repatriados. Uma equipe da Secretaria da Saúde de Goiás prestará apoio médico e operacional dentro das dependências do hotel de trânsito, onde todos usarão máscara o tempo todo e outros equipamentos de proteção quando necessário. O coronavírus, de acordo com pesquisas preliminares, é transmitido por gotículas e o procedimento é realizado para evitar transmissão dessa e de outras doenças.
Tanto no embarque na China quanto no desembarque no Brasil as pessoas que estão chegando de volta passam por verificação da temperatura corporal e ausculta pulmonar. O mesmo procedimento será repetido três vezes ao dia por 18 dias. Quando houver manifestação de algum sintoma, o paciente será encaminhado para isolamento em hospital de Anápolis já preparado para recebê-lo.
Os repatriados, assim que chegarem de viagem, irão direto para os seus quartos. Às 10h de domingo, uma palestra será dada pelo médico do Ministério da Saúde para esclarecer a rotina dos hóspedes em quarentena e o horário de alimentação e de atividades de entretenimento na área externa.
— Estamos obedecendo o período de quarentena previsto pela Organização Mundial da Saúde, que é de 14 dias, mas demos uma margem de mais quatro dias. Eles não terão rotina, mas sim procedimentos a serem seguidos, como as refeições e exames — afirmou o ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, que vistoriou os alojamentos na tarde desta sexta-feira (7).
Após a visita aos alojamentos, o governador Ronaldo Caiado, deu declaração sobre a recepção dos brasileiros que estão vindo da China. Falou que é importante o Brasil agir como uma nação que protege a sua população e criticou as pessoas que condenaram a atitude do governo de resgatar os brasileiros que estavam temendo a disseminação do coronavírus:
—Isso que está sendo feito em Anápolis é algo que eu acredito que vai fazer com que brasileiros passem a refletir mais sobre o que é ser brasileiro e a importância dos brasileiros se sentirem protegidos pela sua nação, de saberem que em qualquer situação eles terão por parte nossa a condição de serem repatriados, de poderem ser tratados com dignidade e com respeito.
Caiado comenta que imagina qual a sensação de uma pessoa que em uma situação como essa dos brasileiros em Wuhan e seu próprio país renegar a ela a condição de ser repatriada.
— Qual a credencial de um país desses, de se firmar diante dos demais? Um Estado e uma nação que não cuida dos seus próprios filhos. Qual a imagem que passa para fora? Eu sei, infelizmente uns poucos são extramente vorazes, no sentido de só enxergar cifrão, lucro, interesse pessoal, com postura de mercenários que não têm nenhum amor à pátria e nenhuma solidariedade e nem sensibilidade de amor ao próximo. A essas pessoas, eles não refletem de maneira alguma o sentimento do povo goiano.