O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta sexta-feira (31) que o governo só vai evacuar brasileiros que estão no epicentro do surto de coronavírus na China depois que forem tomadas as providências que garantam a proteção da população no Brasil, entre elas a garantia de que os cidadãos retornados passarão por uma quarentena.
Além de questões orçamentárias que segundo o presidente dificultam a busca de brasileiros na província de Hubei, Bolsonaro citou a ausência de uma lei nacional que permita colocar essas pessoas em quarentena quando regressadas ao país.
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— Se não tiver redondinho no Brasil não vamos buscar ninguém. A intenção do presidente não vai buscar ninguém. Quem quer vir para cá tem que se submeter aos trâmites de proteção dos 210 milhões que estão aqui — declarou Bolsonaro, após presidir uma reunião com os ministros da Defesa (Fernando Azevedo), Saúde (Luiz Henrique Mandetta) e Relações Exteriores (Ernesto Araújo), além de outros auxiliares palacianos e militares.
O Itamaraty estima que aproximadamente 50 brasileiros estão na zona de quarentena chinesa na província de Hubei, onde está localizada a cidade de Wuhan. No Brasil, já são 12 os casos de suspeita de coronavírus.
Outros países, entre eles Estados Unidos (EUA) e Japão, já realizaram voos para retirar seus cidadãos da região mais crítica de ação da doença.
Um dos pontos mais ressaltados por Bolsonaro nesta sexta foi o fato de o Brasil não contar com uma lei de quarentena. Segundo ele, mesmo que o governo coloque as pessoas retiradas da China em isolamento, um questionamento judicial poderia determinar o fim da quarentena, o que contribuiria para a entrada do vírus no país.
— Se lá (China) temos algumas dezenas de vida, aqui temos 210 milhões de brasileiros — declarou Bolsonaro, que disse ainda que a quarentena ocorreria numa base militar longe dos grandes centros.
— Tem que fazer um exame prévio lá (China). Quem tiver qualquer possibilidade de apresentar o sintoma não embarcaria. E chegando aqui, pela ausência da lei da quarentena, nós temos que discutir com o parlamento. Nós vamos decretar a quarentena com toda certeza numa base militar longe de grandes centros populacionais, para que a gente não cause pânico e transtorno junto à população brasileira — acrescentou.
Questionado se o governo poderia criar a instituição da quarentena por Medida Provisória, o presidente indicou que o tema precisaria ser antes discutido com o Congresso e com o Poder Judiciário, para evitar que questionamentos futuros revertam a medida.
Os EUA estabeleceram que seus cidadãos retornados da zona mais afetada na China precisarão passar por um período de observação em isolamento.
O presidente brasileiro também apontou questões orçamentárias que dificultariam a evacuação.
Questionado quando o Brasil tomará a decisão pelo resgate ou não dos cidadãos do país, respondeu:
— Se você me arranjar recursos e meios a gente começa a providenciar a partir de agora. Um voo deste custa caro, se for fretar um voo é acima de de US$ 500 mil. Pode ser pequeno para o tamanho do orçamento brasileiro, mas depende do Parlamento — disse.
O número de mortos na China pelo surto de coronavírus chegou a 213 no balanço mais recente, e o número de casos confirmados já é de quase 10 mil em todo o mundo.
O chanceler Ernesto Araújo disse ainda que qualquer operação de evacuação precisa antes ser solicitada à China, uma vez que as regiões mais afetadas pelo coronavírus estão fechadas.
Já o ministro Mandetta, da Saúde, disse que o governo seguirá os protocolos e declarará situação de emergência caso haja algum caso confirmado de coronavírus no Brasil — o que até o momento não aconteceu.