Espirros, coceira, vermelhidão na pele, dificuldade respiratória, diarreia ou choque anafilático. São alguns dos sinais que o corpo pode emitir para indicar que você tem alergia. No Brasil, estima-se que uma em cada três pessoas sejam alérgicas. Entre os transtornos mais comuns, estão rinite, asma, dermatites e alergias alimentares, como ao leite, ao glúten e a frutos do mar.
Há muitos fatores que determinam o aparecimento de alergias. Porém, uma coisa é certa: ninguém nasce alérgico. Para desenvolver qualquer alergia, é preciso o contato com o agente causador do distúrbio. A manifestação pode acontecer imediatamente ou ficar anos adormecida em nosso corpo. Como e quando ela vai aparecer, depende de cada organismo. E pode ser a qualquer coisa, não só a alimentos, mas também a tecidos, pó, pelo, pólen...
Em todos os casos, porém, a genética é fator comum. Se um filho tem pai e mãe alérgicos, a probabilidade dele também desenvolver algum tipo de alergia é de 80% – mas não necessariamente do mesmo tipo.
Um dos grandes desafios do nada fantástico mundo das alergias é que, geralmente, as pessoas não buscam o tratamento correto e se rotulam como alérgicas por estarem espirrando na primavera ou se sentirem mal ao comer algum alimento, sem procurar ajuda médica. Muito mais do que administrar os sintomas, é necessário cortar o mal pela raiz – ou tentar impedir que a alergia use nosso corpo como casa.
— O cara que tem rinite vai no otorrinolaringologista, o cara que tem asma vai no pneumologista, o cara que tem dermatite e urticária vai no dermatologista. E muitas vezes os colegas não trabalham nas causas e, sim, só no tratamento medicamentoso, que é importante, claro, mas é a mesma coisa que ficar enxugando gelo, porque não muda a doença em si, apenas se trata os sintomas — explica o médico alergista Diego Marroni, especialista pelo Hospital de Clínicas da Universidade de São Paulo (USP).
Vacinas são fortes aliadas
Em uma definição básica, alergia é considerada uma reação exagerada do nosso corpo contra algo externo. No Rio Grande do Sul, é comum que os distúrbios estejam relacionados ao frio e às mudanças de temperatura. Desde que nasceu, Rafaela, cinco anos, enfrenta problemas respiratórios. Janice de Almeida Fonseca, a mãe, conta que toda vez que os termômetros despencavam, sua filha ficava mal.
— Chegava o inverno, e ela sempre estava atacada. No verão, não tinha nada. No ano passado, eu já estava desesperada. Procuramos um alergista e aí foram feitos vários exames, e os exames mostraram que ela tinha alergia das coisas que acontecem no inverno. Ao vento, à umidade, ao mofo, a tudo — diz a esteticista de 36 anos.
Testes confirmaram que Rafaela era 200 vezes menos imune do que uma criança sem alergia. Mas o tratamento para fortalecer a imunidade fez efeito.
— Neste inverno, ela não precisou passar no hospital. Usou apenas uma vez a bombinha e teve pequenos resfriados, mas nada como antes — festeja Janice.
Em muitos casos, as pessoas acabam ignorando a existência da alergia e tratando apenas dos sintomas. Mas há meios de retardar a evolução da doença – e até curá-la. O tratamento por imunoterapia, por meio da aplicação de vacinas, é considerado eficiente para rinite alérgica, asma alérgica, dermatite atópica e até em casos de alergia a picadas de insetos.
— Uma das maneiras seria tirar da vida da pessoa o que causa alergia. No caso de alimentos, medicamentos e produtos químicos, a gente até consegue. O problema é quando a alergia é respiratória, vem do ar, aí a gente não tem esse controle. Nesses casos, nós temos uma ferramenta bem importante que são as vacinas antialérgicas. Elas deixam o paciente “menos alérgico”. E, em alguns casos, pode chegar até próximo de uma cura — explica Marroni.
Tire suas dúvidas
Com especialização no serviço de Alergia e Imunologia no Hospital das Clinicas da Universidade de São Paulo (USP), Diego Marroni responde a algumas das principais dúvidas sobre alergias.
O QUE É?
É uma reação exagerada do corpo a algo externo. Essa seria a definição geral. Pode ter várias consequências, tanto na via área superior, com rinite e conjuntivite alérgica, quanto na inferior, com a asma alérgica. E muito comum também problemas na pele, desde a urticária até dermatite de contato e dermatite atópica.
OS TIPOS MAIS COMUNS
O carro-chefe é a rinite alérgica. Mas também aparecem alergias alimentares, urticária, dermatite de contato (bijuterias, esmaltes, perfumes) ou dermatite atópica, que é consequência da alergia respiratória (quem tem alergia ao pó, pelos de animais, mofo, fica se coçando).
OS ALERTAS DO CORPO
O corpo dá sinais, e isso varia de idade para idade. Depende também se for uma intolerância ou uma alergia, são coisas completamente diferentes. Intolerância à lactose, por exemplo, é quando o paciente não tem a enzima lactase: ele não consegue digerir a lactose, que é o açúcar do leite. Então, os sintomas costumam ser flatulência, gases, dor abdominal, enjoo, diarreia. Quando o paciente tem alergia à proteína do leite, ele desenvolve um anticorpo específico contra aquela proteína, e os sintomas costumam ser diferentes: urticária, coceira, angioedema até uma anafilaxia. Outra coisa: é comum os pacientes terem rinite alérgica e nem saberem. Eles se acostumam. O pessoal que tranca o nariz, que tem coriza, que espirra, que respira pela boca nem nota, e muitas vezes tem uma rinite que daria para ser tratada.
O DIAGNÓSTICO
Começa com uma boa entrevista e um bom exame, além dos testes cutâneos. A gente testa na pele do paciente os ácaros, a poeira, o mofo, os inalantes, tudo que vem no ar e os alimentos. É um teste que demora 30 minutos e funciona muito bem. Nos casos de dúvida, podemos fazer teste sanguíneo também. E um outro teste é o de contato, feito com adesivos, que busca o diagnóstico da dermatite de contato, a qual envolve cosméticos, maquiagem, esmaltes, material de construção etc.
O TRATAMENTO
Se a gente for pensar alergia como uma reação exagerada do nosso corpo contra algo externo, duas maneiras podem mudar o curso da doença. Uma delas seria tirar da vida da pessoa o que causa alergia. O outro são as vacinas antialérgicas, a imunoterapia. Tem como deixar o paciente "menos alérgico", mais tolerante. Em alguns casos, pode chegar até próximo da cura. A qualidade de vida melhora, ele praticamente não precisa mais de medicamentos, há pacientes que chegam nesse nível. Mas não é para qualquer tipo. As alergias nas quais a gente mais consegue resultado com a imunoterapia são rinite alérgica, asma alérgica, dermatite atópica, alergia a insetos, anafilaxia com abelha, vespa e formiga. Especificamente, a vacina para alergia a insetos é feita em São Paulo.
O MITO DA VARIAÇÃO CLIMÁTICA
O paciente que é alérgico desenvolve uma resposta imunológica contra um agente externo que tem uma proteína, e isso não existe com o frio. O que acontece é que o paciente alérgico costuma ter a via aérea dele inflamada, com rinite, asma, e qualquer alteração mais forte vai gerar sintomas, seja um cheiro forte ou uma mudança de temperatura. Então, não é que ele tenha alergia ao frio, à primavera, só que ele é muito mais sensível a esse estímulo físico. Não é uma alergia diretamente ao frio, mas o frio realmente incomoda mais o paciente alérgico.