Um estudo sobre o desenvolvimento neurológico de crianças nascidas de mães com o vírus da zika mostrou que duas delas, com microcefalia, reverteram o quadro. A pesquisa se concentrou em nascidos na epidemia ocorrida no Rio de Janeiro entre 2015 e 2016. As informações são de O Globo.
Ambas, de acordo com o trabalho, tiveram desenvolvimentos neurológico, de linguagem e motor considerados normais pelos especialistas. Os resultados foram publicados nesta segunda-feira (8) na revista científica Nature Medicine. O levantamento acompanhou 216 crianças nascidas de mães infectadas .
— Não temos dados pra explicar por que isso se deu, mas existe a teoria da neuroplasticidade, que é a capacidade do ser humano de reorganizar suas vias de transmissões cerebrais e passar a fazer tarefas que antes estavam prejudicadas — explica o obstetra José Paulo Pereira Junior, gestor da maternidade do Instituto Fernandes Figueira e um dos autores da pesquisa.
Conduzido por pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) junto a especialistas da Universidade da Califórnia, nos EUA. Durante a pesquisa, as crianças foram acompanhadas desde a infecção da mãe, no pré-natal, até o terceiro ano de vida. Nelas foram conduzidos testes para avaliar as capacidades neurológicas, cognitivas e motoras, além de medições de audição e visão.
Dentre todas as crianças observadas, apenas oito haviam nascido com microcefalia. Ao contrário das duas que conseguiram reverter o quadro, outras duas nasceram sem o diagnóstico da microcefalia, mas vieram a apresentar o quadro depois.
Sintomas de autismo no segundo ano
Cerca de 25% das crianças estudadas apresentaram algum tipo de comprometimento posterior. Nesse grupo estão incluídas três diagnosticadas com sintomas do autismo no segundo ano de vida.
— Essa relação ainda não tínhamos visto, mas também era algo esperado. O mais preocupante é ver que a incidência nos nascimentos parece ser maior do que na população que não foi infectada pelo zika na gestação — explica Alex Souza, especialista em medicina fetal do Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira, de Recife (PE) .
O Ministério da Saúde registrou 6.526 casos de zika em todo Brasil de janeiro a 1° de junho deste ano, um aumento de 28% em relação ao mesmo período em 2018 (5.096 casos). Até então, não havia registro de mortes pelo vírus. O mesmo boletim indicou que havia 215 grávidas com casos confirmados de contaminação pelo vírus, em todo o país. Um terço delas (72) apenas no estado do Rio de Janeiro.
Outro levantamento, divulgado no final de abril, indicava que quase mil cidades poderiam ter surto de dengue, zika e chicungunha no país. O primeiro Levantamento Rápido de Índices de Infestação pelo Aedes aegypti (LIRAa) de 2019 indicou que 994 municípios apresentaram alto índice de infestação, com risco de surto para as doenças. Os dados foram coletados entre janeiro a março deste ano.