O representante da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), Rafael Zavalla, disse nesta quarta-feira (29), no Rio de Janeiro, que o maior problema da América Latina atualmente não é mais a fome, mas a obesidade. Ele participou da abertura do 1º Fórum Regional das Cidades Latino-Americanas Signatárias do Pacto de Milão sobre Política de Alimentação Urbana. O encontro objetiva debater políticas alimentares urbanas sustentáveis e inclusivas.
Para Zavalla, o desafio da obesidade é muito complexo devido a três fatores. O primeiro é a grande quantidade de alimentos ultra-processados, que favorecem a obesidade; o segundo é o sedentarismo e o terceiro fator, mais grave, é um problema midiático: a promoção do consumo de alimentos "não bons". Para ele, é preciso que haja o compromisso da sociedade civil, empresas e governos para focar nessas questões e tentar resolvê-las.
Em entrevista à Agência Brasil e à Rádio Nacional, Zavalla disse que o problema da fome persiste em alguns países, como a Guatemala, porém, regionalmente, o desafio é a obesidade.
Para combater a obesidade, o representante da FAO destacou a estratégia da alimentação escolar feita no Brasil.
— O Brasil é número um. Um grande exemplo a nível global para ir cultivando nas crianças como comer melhor, fomentando não só alimentação saudável, mas cultura alimentar, gerando também ambientes saudáveis para a alimentação e a educação.
Concentração
O representante da FAO, disse que a obesidade está concentrada nas cidades. Dentre os dez países líderes da obesidade no mundo, quatro estão nas Américas, sendo dois na América Latina. A liderança é exercida pelos Estados Unidos, com 38,2%; seguido do México, com 32,4%; Canadá, com 25,8%; e Brasil (20,8%).
México, Estados Unidos e Brasil são os países que concentram maior população urbana. Na América Latina, as maiores cidades estão no México e Brasil.
— É claro o desafio da obesidade nas cidades — disse Zavalla.
Problema
O relatório Panorama da Segurança Alimentar e Nutricional na América Latina e Caribe, divulgado pela FAO e Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) no ano passado, mostrava que a obesidade afetava um em cada quatro habitantes na região. De 2012 para 2016, a obesidade evoluiu 2,4%, afetando 24,1% da população regional.
Entre os adultos, essa condição de saúde englobava 104,7 milhões de pessoas. Em todo o mundo, há em torno de 672 milhões de pessoas obesas, o que corresponde a mais de uma pessoa para cada oito indivíduos, informou a FAO.
Em 2017, o relatório da FAO e Opas já identificava tendência de crescimento da obesidade. Cerca de 58% da população latino-americana e caribenha estavam com sobrepeso, o que equivalia, à época, a 360 milhões de pessoas. Já a obesidade afetava 140 milhões de pessoas, 23% da população regional, com maior prevalência no Caribe: Bahamas (36,2%) Barbados (31,3%), Trinidad e Tobago (31,1%) e Antígua e Barbuda (30,9%).
As mulheres superam os homens no aumento da obesidade. Mais de 20 países da região latino-americana e caribenha revelam que a taxa de obesidade feminina era, em 2017, 10% maior que a dos representantes do sexo masculino.
Globalização
Em reunião dos ministros da Agricultura do G20, em Niigata, no Japão, neste mês, o chefe da FAO, o brasileiro José Graziano da Silva, alertou que estava ocorrendo uma "globalização da obesidade". Segundo a FAO, mais de 2 bilhões de pessoas no mundo estão atualmente acima do peso e mais de 670 milhões são consideradas obesas.
Graziano defendeu que a obesidade pode ser combatida por meio de parcerias público-privadas que contribuam para que os sistemas alimentares forneçam, "de maneira sustentável, alimentos saudáveis ??e nutritivos para todos".
Embora oito dos 20 países com maiores taxas de obesidade estejam na África, é na Ásia que são encontrados em torno de 19 milhões de crianças abaixo dos 5 anos de idade com excesso de peso. De acordo com a FAO, em todo o mundo são 38 milhões de crianças de até 5 anos com excesso de peso.
O tema da obesidade é um dos que será abordado durante o fórum regional do Pacto de Milão, que se estenderá até o próximo dia 31, no Museu de Arte do Rio de Janeiro (MAR).