Muitos corredores de meia-idade e outros praticantes de esportes de resistência estão acostumados com a preocupação de amigos e familiares – e às vezes dos médicos também – de que eles talvez estejam se exercitando em excesso e sobrecarregando ou prejudicando o coração.
Para todos eles, um estudo de grande escala publicado recentemente na "JAMA Cardiology" traz resultados tranquilizadores. Foi descoberto que homens de meia-idade que praticam exercícios intensos regularmente tendem a desenvolver plaquetas nas artérias cardíacas, mas eles também estão menos propensos a morrer prematuramente de um ataque cardíaco ou de outras causas do que pessoas sedentárias.
Em outras palavras, as descobertas levantaram a interessante hipótese de que o exercício extenuante pode proteger o coração dos mesmos problemas para os quais contribui.
Claro, ninguém duvida que exercícios são benéficos para o coração. Estudo após estudo vem mostrando que aqueles capazes de seguir a recomendação padrão de aproximadamente 30 minutos de exercício moderado por dia têm risco reduzido de desenvolver alguma doença cardíaca.
Contudo, há indícios de que o exercício em excesso, especialmente se for intenso, pode não ser bom. Em estudos antigos, pesquisadores examinaram imagens do coração de atletas praticantes de exercícios de resistência de longa duração, como corredores de maratona, e encontraram cicatrizações no músculo cardíaco e um elevado nível de plaquetas coronárias, que podem se desprender e bloquear as artérias e causar um ataque cardíaco. Mas a maioria dessas investigações iniciais era feita em pequena escala e só fornecia uma única análise do coração dos atletas; não acompanhou essas pessoas ao longo dos anos para verificar se a prática intensa de exercício e o subsequente aumento de plaquetas estariam relacionados aos riscos aumentados de ataques cardíacos e menor longevidade.
Por isso, para o novo estudo, os cientistas do Instituto Cooper, em Dallas, e outras instituições decidiram examinar com afinco essa questão. Eles também tinham em mãos uma coletânea de dados muito útil nos registros de dezenas de milhares de pessoas que se submeteram a exames na afiliada Clínica Cooper, entre os quais imagens de tomografia do coração das pessoas e questionários detalhados sobre seus hábitos de exercício.
Os pesquisadores se concentraram nos registros de 21.758 homens, a maioria na casa dos 50 anos. (Eles não incluíram mulheres, mas pretendem fazê-lo na continuação da pesquisa.) Os homens foram classificados em grupos, com base na frequência com que se exercitavam. O primeiro grupo incluiu aqueles que se exercitavam vigorosamente pelo menos cinco horas por semana, geralmente mais. Os cientistas usaram uma medida matemática (conhecida como Equivalente Metabólico da Tarefa) para definir a intensidade do treino deles, mas, na prática, a carga de exercício dos considerados atletas extremos equivalia a correr aproximadamente 9 quilômetros por dia. O segundo grupo se exercitava um pouco menos; o terceiro fazia menos da metade dos exercícios por semana do que a maioria dos praticantes assíduos.
Os pesquisadores também examinaram a tomografia do coração de cada homem. O nível de acúmulo de plaquetas pode normalmente ser medido por meio da pontuação de cálcio coronariano. Alguém que apresente pontuação acima de 100 tem acúmulo preocupante de plaquetas. Ao comparar os grupos, os estudiosos determinaram que os homens do primeiro grupo eram propensos a desenvolver plaquetas. Na verdade, eles tinham 11 por cento mais chances de apresentar a pontuação de cálcio acima de 100 quando comparados aos homens dos outros grupos. Alguns dos atletas mais extremos apresentaram pontuação acima de 800.
Por fim, durante uma década, analisaram os registros de óbito após o exame mais recente de cada participante, para verificar se algum tinha morrido. Alguns morreram, particularmente de ataque do coração. Entre aqueles com a pontuação de cálcio acima de 100, contudo, poucos pertenciam ao grupo dos que mais se exercitavam. Estes vieram a apresentar risco mais baixo de morte prematura do que aqueles que raramente se exercitavam, mesmo exibindo a mesma pontuação de cálcio, ou até maior.
[E]sses resultados sugerem que uma grande quantidade de exercícios pode aumentar o risco de desenvolvimento de plaquetas, ao mesmo tempo que diminui a possibilidade de morte por ataque cardíaco provocado por essas mesmas plaquetas[.]
Basicamente, esses resultados sugerem que uma grande quantidade de exercícios pode aumentar o risco de desenvolvimento de plaquetas, ao mesmo tempo que diminui a possibilidade de morte por ataque cardíaco provocado por essas mesmas plaquetas, esclareceu a dra. Laura DeFina, diretora do Instituto Cooper, que liderou o estudo. Ainda segundo ela, isso provavelmente acontece porque treinos muito extremos dão origem a plaquetas que, em pessoas altamente ativas, são mais densas e estáveis do que em pessoas sedentárias, tornando-as menos propensas a se descolar e causar um ataque cardíaco.
Ainda assim, ela enfatizou que essa ideia é especulativa e exige mais estudos. Cientistas também não têm certeza de como, em nível molecular, o exercício intenso é capaz de promover o acúmulo de plaquetas e por que as artérias de algumas pessoas permanecem inalteradas, independentemente de quanto se exercitam.
DeFina e outros colegas pesquisadores esperam investigar essas questões em estudos futuros. Enquanto isso, ela aconselha os corredores de meia-idade e outros atletas de resistência a prestar atenção a qualquer sintoma cardíaco, como dores no peito e falta de ar, e a conversar com seu médico sobre a necessidade de realizar uma tomografia do coração.
A boa notícia da pesquisa, revelou DeFina, é que, mesmo com a tomografia revelando uma alta pontuação de cálcio, parece que a maioria das pessoas "pode, e deve, continuar a praticar exercícios sem preocupações".
Por Gretchen Reynolds