No universo das dietas, o céu não é limite. A cada dia, surgem novos regimes alimentares com propostas diferentes, ou nem tanto assim. Depois da Whole30 (um mês sem produtos industrializados nem açúcar), dieta antifermentativa (para reduzir a formação de gases intestinais, flatulência e distensão abdominal), low carb (redução do consumo de carboidratos) e por aí vai, a novidade é a pegana, híbrida da vegana e da paleolítica.
— O veganismo não é apenas uma dieta, mas sim, uma filosofia de vida que exclui, na medida do possível e do praticável, toda forma de exploração e sofrimento animal. Ao passo que uma dieta paleolítica tem como parte importante da alimentação o consumo, em grande quantidade, de carnes e ovos. Por isso, por si só, a proposta da dieta pegana já fere os fundamentos básicos de uma alimentação vegana — explica a nutricionista Raquel Lupion.
Nos Estados Unidos, a dieta ganhou força depois que o médico Mark Hyman, autor de livros best-seller do New York Times, a publicou em fevereiro de 2018. Conforme o Washington Post, as buscas pelo termo na internet cresceram bastante nos últimos 12 meses. No Brasil, no entanto, ainda não se popularizou.
Baseada em plantas e vegetais, a dieta tem pontos positivos tanto para a saúde humana quanto do planeta, diz o Post. Os vegetais — quanto mais coloridos, melhor — devem corresponder a cerca de 75% da alimentação. O restante deve ser proveniente de carnes e gorduras saudáveis. Ao contrário do veganismo, a dieta pegana permite consumo de itens de origem animal e estimula a ingestão de peixes, manteiga e carne de animais criados de forma sustentável.
— Esse padrão alimentar (sem consumo de animais) já é reconhecido por associações e sociedades de saúde no mundo todo como sendo mais saudável e protetor contra todos os tipos de doença. Entretanto, na dieta pegana, há a inclusão de carnes, que são alimentos ricos em gordura saturada e cujo consumo deve ser moderado, principalmente se existirem problemas de saúde, como hipertensão, diabetes, alguns tipos de cânceres, doenças cardiovasculares ou histórico dessas doenças na família — destaca a nutricionista.
Só frutas vermelhas
Também como ponto negativo, o regime pegano limita o consumo de frutas às vermelhas, que têm o índice glicêmico mais baixo, assim como sugere que o feijão seja ingerido “de vez em quando”, apesar de seus reconhecidos atributos nutricionais. A dieta prega que se evitem grãos com glúten e limita o consumo daqueles sem a proteína, como quinoa, amaranto e aveia. O argumento? Eles podem aumentar o açúcar no sangue e poderiam desencadear a autoimunidade. No entanto, não há nenhuma evidência de que esses alimentos possam provocar esse problema.
Para a nutricionista, esse tipo de restrição sem doença ou crença filosófica associada reduz a diversidade de nutrientes, o que priva o organismo de receber substâncias importantes e dificulta as interações sociais.
— Como profissional da saúde, minha conclusão sobre a dieta pegana é que ela, apesar de estimular o consumo de alimentos orgânicos, naturais, íntegros e integrais, essenciais para uma dieta saudável, restringe o consumo de grãos importantes para nossa saúde e que também são muito comuns na cultura do brasileiro, como arroz e feijão, além de estimular o consumo de alimentos ricos em gordura saturada — finaliza Raquel.