Pesquisa realizada por cientistas de vários países, a maior parte deles do Brasil, descobriu que atividades físicas podem desempenhar um papel relevante no combate ao Alzheimer. A doença é uma das que mais avança no mundo, caminhando ao lado do envelhecimento da população.
Em um experimento feito com camundongos, os pesquisadores descobriram que atividades físicas elevam os níveis da irisina, um hormônio produzido durante a prática que traz dois benefícios: proteção ao cérebro e restauração da memória. A análise de cérebros de humanos com Alzheimer já falecidos também demonstrou menor presença da substância. Os cientistas descobriram que ratos com menos irisina tinham pior memória. Mas, quando recebiam o hormônio injetado, a memória melhorava.
A descoberta abre caminho para um tratamento contra a perda da memória provocada pelo Alzheimer e aponta para o exercício físico como possível aliado. Segundo a Associação Brasileira de Alzheimer (Abraz), estima-se que haja no mundo cerca de 35,6 milhões de pessoas com a doença – 1,2 milhão só no Brasil, a maior parte ainda sem diagnóstico. A evolução da doença leva de oito a 10 anos.
O trabalho foi publicado nesta segunda-feira (7), na revista científica Nature Medicine, e contou com a participação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), da Fiocruz e do Instituto D'Or, também do Rio.
A irisina, batizada em homenagem a Íris, mensageira dos deuses, é encontrada em níveis baixos nos pacientes de Alzheimer. O hormônio é produzido pelos músculos e, os pesquisadoras agora descobriram, também pelo cérebro.
Os pesquisadores acreditam que a irisina poderá ser usada em remédios, inclusive porque, por ser produzida no organismo, possivelmente não trará efeitos colaterais.
O hormônio foi descoberto sete anos atrás e, na época, sua presença foi associada à melhora dos sintomas de diabetes tipo 2 em roedores. Como pacientes do diabetes têm mais chances de desenvolver Alzheimer, levantou-se a hipótese de que a irisina também pudesse ter algum efeito protetor contra essa doença.
O trabalho só existiu porque a cientista brasileira Fernanda de Felice, após penar com a falta de recursos para pesquisa no Brasil, conseguiu financiamento no Canadá.
O estudo que confirmou esse fato envolveu 25 pesquisadores, 15 deles atuantes em laboratórios do Brasil. A próxima etapa é testar se o efeito verificado nos camundongos se repete em seres humanos. A ideia é que, no futuro, por via da reposição da irisina, seja possível fazer frente à perda da memória.