Publicado na revista científica Immunity, um novo estudo mostra que uma versão experimental de vacina contra o HIV funcionou em primatas não humanos. Ainda que esteja longe para a imunização ser testada em humanos, a pesquisa, da Scripps Research, da Califórnia (EUA), é relevante porque mostrou que macacos rhesus foram capazes de produzir anticorpos neutralizantes contra o Tier 2, cepa do vírus que mais infecta as pessoas e considerada mais resiliente.
— Descobrimos que anticorpos neutralizantes que foram induzidos pela vacinação podem proteger os animais contra vírus que se parecem muito com o HIV no mundo real — diz Dennis Burton, presidente do Departamento de Imunologia e Microbiologia da Scripps Research e diretor científico da Iniciativa Internacional de Vacinas contra a Aids (Iavi, na sigla em inglês).
A equipe de Burton vem trabalhando em uma estratégia de produção da vacina desde a década de 1990 que trabalha com o conceito de, além de identificar áreas raras e vulneráveis do HIV, ensinar o sistema imunológico a produzir anticorpos que ataquem essas áreas. No meio do desenvolvimento desses estudos, os cientistas chegaram à conclusão de que o corpo precisa produzir anticorpos neutralizantes que se ligam ao trímero de proteína do envelope externo do vírus.
Os pesquisadores produziram esses anticorpos em laboratórios e injetaram em macacos rhesus e tinham como desafio treinar os animais a identificar os vírus – uma vez que seu sistema imunológico foi exposto ao trímero de proteína do envelope – e também fazer com que eles fossem capazes de produzir os anticorpos corretos contra o HIV.
A vacina foi testada em dois grupos de macacos rhesus, que já haviam sido imunizados em razão de outro estudo. Um grupo era composto de seis que desenvolveram baixos níveis de anticorpos nessa oportunidade e outros seis desenvolveram altos níveis. Como grupo de controle, outros 12 primatas foram também expostos a uma versão artificial do HIV.
A conclusão foi de que a vacinação funcionava nos animais de altos níveis de anticorpos, e que eles podem produzir um número suficiente deles contra o vírus Tier 2 de maneira a prevenir a infecção por HIV.
— Desde que o HIV surgiu, esta é a primeira evidência que temos de proteção baseada em anticorpos contra um vírus Tier 2 após a vacinação — diz Matthias Pauthner, pesquisador associado da Scripps Research e co-primeiro autor do novo estudo .
O grande desafio, a partir de agora, é como fazer com que todos os animais tenham esses altos níveis de anticorpos e mantê-los atuantes para que a proteção contra o HIV não caia conforme esses níveis também diminuam ao longo de semanas e meses após a vacinação.
Além disso, também é buscada uma estratégia para produção de anticorpos neutralizantes contra uma variedade mais ampla de cepas do vírus, e não apenas contra o Tier 2.
— Há muitos truques imunológicos que podem ser explorados para tornar a imunidade mais duradoura — ressalta Pauthner.