Uma paciente de 34 anos foi a primeira a receber um cardiodesfibrilador subcutâneo no Rio Grande do Sul. O procedimento, realizado na última quarta-feira (28), no Instituto de Cardiologia (IC), foi o pioneiro no Estado e abre as portas para novas alternativas no combate à morte súbita, mal que acomete cerca de 300 mil brasileiros por ano.
Diferentemente do aparelho tradicional, o equipamento subcutâneo não tem contato direto com o coração e é implantado na lateral do corpo, próximo às costelas. Dele, saem os fios que fazem um formato de "L" até a região central do peito. Dessa forma, o equipamento fica em uma porção mais superficial e abrange toda a região onde fica o órgão.
— A função do aparelho é dar um choque para reverter a arritmia. Ele entrega energia do choque do aparelho até a ponta do fio, então, a energia passa em cima do coração sem ter contato. O princípio se assemelha aos choques usados quando a pessoa tem uma parada cardíaca: é como se ficassem duas pás pequenas por dentro do corpo prontas para isso — ilustra o cardiologista Roberto Sant'Anna, responsável pelo Programa de Transplante Cardíaco do IC.
Por não ser tão invasivo, o aparelho subcutâneo oferece menos riscos ao paciente e uma recuperação mais rápida — a primeira paciente a fazer esse implante foi liberada um dia após a cirurgia. No procedimento tradicional, explica Sant'Anna, é preciso acessar uma veia que fica entre a clavícula e o pulmão, o que, de certa forma, oferece riscos.
— O cabo fica batendo dentro do coração, o que pode gerar problema na válvula ou levar uma infecção ao órgão — completa o médico.
Além disso, há estimativas de que, nos primeiros 10 anos após o implante do aparelho tradicional, 20% dos pacientes sofram com problemas no cabo que liga o aparelho ao órgão, obrigando-os a trocá-lo. Essa mudança também é um procedimento invasivo e complicado, pois, com o passar dos anos, o cabo vai aderindo ao trajeto do coração.
— Depois de cinco anos, remover esse cabo é mais difícil. Com esse aparelho novo, mais superficial, se precisar substituí-lo, é bem mais fácil — finaliza o cardiologista.
Além de Sant’Anna, participaram do procedimento os médicos Gustavo Glotz de Lima, João Ricardo Sant'Anna e Fernando de Souza.