Mesmo após seis anos de sua morte, George Solitário, a última tartaruga gigante de Galápagos, que se tornou um símbolo do movimento de conservação de espécies, está ajudando cientistas, que usam amostras de seu DNA para realizar estudos, a descobrirem os segredos da longevidade. As informações são de O Globo.
Tartarugas gigantes podem viver, em média, um século — George, por exemplo, tinha idade estimada em 100 anos quando morreu, em 2012. Além disso, pesquisadores da Universidade de Yale, Estados Unidos, conseguiram identificar uma série de atributos genéticos que ajudam a prevenir mutações cancerígenas. Acredita-se, portanto, que esses animais possam ajudar na questão do envelhecimento saudável dos seres humanos.
A pesquisa, que foi publicada na revista Nature Ecology and Evolution, também forneceu indícios a respeito da evolução e conservação das tartarugas ameaçadas de extinção, que se desenvolveram em larga escala em ilhas isoladas, onde eram livres de predadores, mas que agora estão ameaçadas por mudanças climáticas, caça, perda de habitat e espécies invasoras.
Apesar de diversas tentativas para que George se reproduzisse terem fracassado, seu DNA sobrevive em amostras recolhidas pela bióloga Adalgisa Caccone em 2010. A tartaruga gigante de Galápagos é uma das espécies observadas por Charles Darwin para elaborar a teoria da evolução do século 19.
Genoma que pode ser a cura do câncer
Agora, com as informações recolhidas do genoma de George, os pesquisadores estão conduzindo estudos para compará-las com as de outros animais e também com outras espécies de tartarugas para isolar as diferenças que possivelmente poderiam sustentar o envelhecimento saudável.
Já outra área importante da pesquisa se concentrou em observar o motivo pelo qual o câncer raramente se manifesta na espécie, embora os animais estejam, em teoria, mais propensos a desenvolver carcinomas.
Durante o estudo, os pesquisadores descobriram que o genoma da tartaruga gigante duplicou grande parte dos genes encontrados em outras espécies de animais que se dedicam à supressão de tumores. Essas instruções, que são reguladores dos processos e divisões celulares, podem desempenhar diversos papéis, desde o desencadeamento da autodestruição de células defeituosas até a prevenção da duplicação das mesmas.
Conforme os animais envelhecem, as mudanças genéticas ocorrem em todo o código genético a partir da exposição a carcinógenos, como os raios UV, e de erros simples que ocorrem à medida que o DNA é copiado.
Alterações em um gene supressor de um tumor podem impedir que esse gene cumpra sua função, permitindo que o tumor cresça além do controle do sistema imunológico. Porém, possuir diversas cópias desses genes é capaz de reduzir o risco se algumas das cópias for mutante.
Uma expansão similar das regiões genômicas ligadas ao reparo do DNA, ao metabolismo e ao sistema imunológico, que não são vistas em animais de vida mais curta, também foi encontrada pelos autores do estudo. Este fato poderia permitir que as tartarugas gigantes resistissem a infecções e sobrevivessem à falta de alimentos, que também explicaria o tamanho e a longevidade.