Uma pesquisa realizada na Universidade de York, no Reino Unido, identificou genes presentes em um parasita que podem ajudar médicos a prever os resultados do tratamento para pacientes com leishmaniose visceral no Brasil. As informações são do G1.
Os resultados podem levar a um novo teste que pode prever quais pacientes irão responder bem ao tratamento e quais necessitarão de soluções alternativas.
A leishmaniose é uma infecção parasitária transmitida aos seres humanos pela picada do mosquito fêmea infectado. A cada ano, milhares de casos são registrados no mundo. Os principais sintomas são febre, perda substancial de peso e inchaço do baço e do fígado. Caso não seja tratada, pode ser fatal.
A equipe, em colaboração com a Universidade Federal de Glasgow, a Universidade Federal do Piauí e a Universidade Estadual de Montes Claros, constatou que a ausência de quatro genes particulares do parasita leishmania infantum o torna menos suscetível a um medicamento oral chamado miltefosina.
Ao chegar no país pela primeira vez em 1600 vindo da Europa, o parasita sofreu mutações e adaptações com o passar dos anos, tornando difícil prever quando responderá ao tratamento medicamentoso. Durante um ensaio clínico feito anteriormente com medicação oral, 40% dos pacientes tiveram recaídas no período de seis meses.
— A miltefosina é o único tratamento oral disponível para a leishmaniose, mas devido à sua baixa eficácia no tratamento da leishmaniose visceral no Brasil, esta droga não é licenciada no país. Isso significa que os pacientes brasileiros dependem de medicações intravenosas, que requerem instalações médicas para seu uso — disse Juliana Brambilla Carnielli, pesquisadora do Departamento de Biologia da Universidade de York.
Como foi realizado o estudo
Para entender o que pode estar contribuindo para a resistência natural ao medicamento oral, os pesquisadores investigaram os marcadores moleculares do parasita. A ausência dos genes se compara com a resistência ao remédio, o que significa que pacientes brasileiros poderiam ser beneficiados ao realizar um exame de sangue capaz de detectar se são ou não portadores do parasita resistente. O exame de sangue já está sendo desenvolvido pela equipe de pesquisa.
— Uma abordagem de medicina personalizada será a chave para fazer a grande diferença nos resultados dos pacientes, já que nossa pesquisa está nos dizendo que o parasita não reagirá da mesma maneira em todos os casos a um tratamento de tamanho único — diz Jeffrey Mottram, pesquisador da Universidade de York.
A próxima etapa do estudo deve ser realizada por meio de ensaio clínico em pacientes brasileiros que apresentem exame de sangue positivo para verificar se a realização de testes prévios na progressão da doença e a adaptação de medicamentos poderiam reduzir o número de pacientes com recaídas.
Vetor e transmissão
O inseto transmissor da leishmaniose tem tamanho inferior ao mosquito doméstico. Mede cerca de 3mm e é popularmente conhecido como mosquito-palha. Ele se procria em áreas silvestres – hoje próximas à área urbana. A doença não é transmitida pelo contato, apenas pela picada do mosquito.