Após o incentivo feito pela Organização das Nações Unidas (ONU) para que insetos fossem consumidos para evitar a fome mundial, as engenheiras de alimentos Andressa Jantzen, da Universidade Federal de Rio Grande (Furg), e Lauren Menegon, da Faculdade de Tecnologia de Sinop, no Mato Grosso, resolveram buscar informações sobre o assunto. Em 2013, depois de perceberem que quase não havia material com embasamento cientifico sobre o tema, resolveram começar a pesquisa. Então, em 2014, fizeram o primeiro pão feito com farinha de barata desidratada. Isso mesmo, barata.
Vários processos foram realizados até que elas chegassem a produção do pão, incluindo análises microbiológicas feitas para obter as informações sobre as condições higiênicas e sanitárias dos insetos. Depois de constatarem resultados satisfatórios, deram continuidade ao trabalho.
As baratas utilizadas para fazer o pão não são aquelas comuns encontradas facilmente no Brasil. Depois de algum tempo de estudo, Andressa e Lauren descobriram que a barata cinérea era a mais apropriada para a produção, já que foi a espécie que apresentou o maior número de proteínas, cerca de 20% a mais do que a carne bovina.
Encomendadas de um criador certificado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) que fica em Betim, Minas Gerais, as baratas que são usadas para a produção dos pães são de origem africana, produzidas em cativeiro e próprias para consumo humano, diferentemente da barata doméstica comum, de origem americana.
— No Brasil, o consumo de insetos não é habitual por questões culturais, então, desenvolver uma farinha que pudesse ser utilizada para enriquecer produtos alimentícios foi uma ideia que tivemos para aumentar a aceitação do consumidor — explica Lauren.
As pesquisadoras explicam que diversos benefícios podem ser observados quando os insetos são incluídos na alimentação. Além da excelente fonte de proteína (no caso dos pães, o enriquecimento proteico chegou a 133%), elas também passaram a observar o teor de vitaminas presentes. Alguns deles, segundo Lauren, têm uma quantidade de vitamina D elevada, bem como de vitaminas B2, C e Ômega 3.
— Nós pudemos observar que eles (os insetos) são uma excelente fonte nutricional, superando os alimentos convencionais como carne bovina, suína e até mesmo os peixes – explica Lauren.
O processo de fabricação do pão
As baratas – que já chegam desidratas – foram moídas em um moinho de bolas, um equipamento especializado em moer matérias sólidas e obter pequenas partículas. Depois disso, o material obtido foi peneirado para que ficasse homogêneo. Por fim, as pesquisadoras adicionaram 90% de farinha de trigo comum e 10% de farinha de barata desidratada na receita comum de pão.
Nós pudemos observar que eles (os insetos) são uma excelente fonte nutricional, superando os alimentos convencionais como carne bovina, suína e até mesmo os peixes.
LAUREN MENEGON
Pesquisadora
— Tivemos resultados muito positivos quando adicionamos a farinha em pães, bolos e barras de cereais — afirma Lauren.
Questionada sobre o sabor do pão, Lauren afirma que é muito parecido com o sabor de pães do tipo integral. As pesquisadoras também realizaram testes de intensão de compra e análise sensorial com mais de 80 julgadores. Entre eles, a aceitação foi de 82%, que afirmaram que comprariam o pão caso estivesse disponível para venda.
Consumo no Brasil
Apesar de o pão de farinha de barata ter sido um sucesso, você não vai encontrá-lo para vender tão cedo no Brasil. Diferente de diversos países asiáticos, onde o consumo de insetos é permitido e até costume, no Brasil, a prática não é comum e nem regulamentada para consumo humano pela Anvisa.