As cirurgias de otorrinolaringologia estão suspensas na rede pública de saúde de Caxias do Sul. A fila acumula 500 pacientes à espera de procedimentos. São crianças, jovens e adultos que aguardam intervenções diversas. Entre elas, estão a retirada de amígdalas, cirurgias de adenoide e desvio de septo.
Segundo a Secretaria Municipal da Saúde, o motivo para a suspensão do serviço é o esgotamento de recursos. De acordo com o secretário Geraldo da Rocha Freitas Júnior, o município recebe mensalmente R$ 126 mil do governo federal e aplica outros R$ 32 mil para consultas, exames e cirurgias na área. Ele alega que, desde 2009, quando iniciou o repasse federal, nunca houve reajuste.
— Infelizmente, no mês de agosto chegou no limite do contratado para cirurgias eletivas. As cirurgias de urgência, a gente realiza com os recursos que o município dispõe para complementar essas situações. Mas as eletivas a gente cumpre fielmente o contrato com o prestador porque são procedimentos que a gente pode programar. Até o final de outubro, a gente tem uma previsão de retomar esse serviço.
Segundo o secretário, em setembro os recursos serão destinados para exames e consultas. O município diz que busca junto ao Estado recursos para o serviço. Freitas Júnior vai a Porto Alegre nesta terça-feira (3) para tratar novamente do assunto. Conforme a Secretaria Municipal da Saúde, as cirurgias fazem parte de um contrato relativo à saúde auditiva – exceto casos que precisam de aparelhos, que recebem uma verba adicional.
Já a titular da 5ª Coordenadoria Regional de Saúde (CRS), Solange Sonda, confirma que existe uma negociação para repasse de R$ 40 mil mensais para procedimentos em geral relacionados à saúde auditiva, o que depende de aprovação interna. Mas, segundo ela, isso não inclui a cirurgias de otorrinolaringologia. A coordenadora afirma que Caxias não é referência para os 49 municípios da 5ª CRS para esse serviço. Por isso, conforme Solange, não existe justificativa para a liberação de recursos do Estado para a otorrinolaringologia.
Na espera por cirurgia
Entre os pacientes da lista de espera, está Larissa Almeida Araújo, três anos. A menina, que adora posar para fotos, também gosta de falar e brincar. Mas a demora na cirurgia traz prejuízos para que ela desenvolva atividades simples para outras crianças. Larissa não pode, por exemplo, mamar deitada porque isso provoca vômitos. A respiração é pela boca e, na hora de dormir, a menina costuma roncar.
Um exame realizado em abril mostra que ela tem aumento da adenoide e crescimento excessivo das amígdalas. Conforme a mãe, Greice Almeida, 32 anos, os médicos dizem ainda que Larissa tem desvio de septo nasal. De acordo com ela, a confirmação de que havia a necessidade de cirurgia veio em abril de 2017, quando a menina ficou hospitalizada. Esse foi um dos momentos de agravamento da doença, mas Larissa sofre diariamente com os sintomas.
— Ela tem enfrentado problema para dormir, para comer, para falar. Já faz um ano e meio que nós estamos sofrendo com isso. Toda a gripe que ela tem, por mais fraquinha que seja, se agrava muito, porque ela ronca muito, ela não consegue respirar direito. Então, qualquer gripe, tenho que levar no médico porque a imunidade dela baixa muito — conta Greice.
Embora os procedimentos cirúrgicos suspensos não impliquem em risco de vida, as doenças prejudicam o bem-estar dos pacientes e acabam sobrecarregando o atendimento na ponta. Só neste ano, Larissa teve de ir duas vezes ao posto de saúde, uma ao Postão 24 Horas e outra ao hospital, por causa de complicações.
Além dos casos já diagnosticados, a fila é grande para quem espera por consulta. Conforme a Secretaria Municipal da Saúde, são cerca de 1.200 aguardando por um especialista.