O Ministério Público do Rio Grande do Sul vai investigar supostas irregularidades em resultados de exames de pré-câncer em Pelotas, no sul do Estado. Médicos e enfermeiros da Unidade Básica de Saúde (UBS) Bom Jesus denunciaram o laboratório responsável pela execução dos exames, que, segundo os profissionais, pode não estar analisando todos os exames feitos pelo SUS — a empresa enviaria resultados por amostragem.
O memorando apresentado à Secretária Municipal de Saúde coloca em dúvida os resultados dos exames. Segundo os funcionários da UBS, no período de janeiro de 2014 a junho de 2017 não foram identificados resultados alterados em nenhum exame citopatológico de colo uterino coletado. Para eles, isso sugere que nem todos foram analisados. Relatam, ainda, que uma paciente teve o diagnóstico do seu exame apontado como normal, mas depois de consultar com médico especialista foi diagnosticado um tipo de câncer de colo de útero.
A Secretaria Municipal de Saúde de Pelotas divulgou nota citando que realizou uma ação de fiscalização no laboratório SEG (Serviço Especializado de Ginecologia) depois de receber as denúncias, quando foi apresentada a documentação necessária e o Alvará Sanitário dentro da validade, não identificando irregularidades. Esta semana foi feito novo pedido junto ao laboratório e novos laudos devem ser apresentados na próxima semana.
Comunidade entrega abaixo-assinado
Na sexta-feira (13), a secretária de Governo, Clotilde Victória, e a chefe de Gabinete, Kelli Schaefer, receberam um grupo de pessoas e representantes de entidades e organizações, que entregaram um abaixo-assinado, com 168 assinaturas, com solicitação de esclarecimentos sobre o caso.
— Desde cedo estamos fazendo reuniões e traçando metas de atuação nesse assunto, que tem causado comoção nas mulheres que realizaram o exame e agora se sentem inseguras frente à essa denúncia. Nossa pauta principal é buscar a verdade e esclarecer tudo, com a maior brevidade possível, para que se retome a tranquilidade — disse Victória.
A advogada do laboratório SEG (Serviço Especializado de Ginecologia), Christiane Ualt Fonseca, afirma que segunda-feira o laboratório vai dar informações detalhadas, mas lamenta o episódio e garante que a empresa, existente há 43 anos, jamais realizou exames por amostragem.
— Isso é surreal. Temos como comprovar os testes feitos.
Christiane afirma que muitos testes realizados pelo SEG mostraram alterações, ao contrário do que o grupo de pacientes alegou. Um dos problemas detectados é uma inflamação chamada gardnerella, que apareceu em exames feitos.
— Essa infecção impede que alguns exames sejam coletados, porque camufla a situação do tecido vaginal. Mas dizer que não foram feitos testes é irresponsabilidade — pondera Christiane.