Exames realizados no Laboratório Central do Estado (Lacen) indicam que cinco dos 41 bairros de Santa Maria concentravam mais da metade dos casos de toxoplasmose confirmados na cidade. De uma amostra com 83 pacientes doentes, 45 residiam em Pinheiro Machado, Tancredo Neves, Nova Santa Marta, Juscelino Kubitschek e Urlândia. As quatro primeiras localidades situam-se na zona oeste e são contíguas. Urlândia fica ao sul.
Um levantamento mais abrangente, com 352 casos, reforça que o surto de toxoplasmose que assola Santa Maria concentra-se a oeste, mas inclui também o Centro entre os bairros com mais infectados. Entre os casos já confirmados, há pacientes que apresentaram os primeiros sintomas em janeiro, em fevereiro, em março, em abril e em maio, o que pode sugerir um prolongamento incomum da contaminação ao longo do tempo.
As mulheres perfazem dois terços dos doentes, que em mais de metade dos casos são pessoas com idade entre 20 e 39 anos. As informações, que autoridades municipais e estaduais vinham se negando a repassar à população, constam de um documento interno para o Centro de Informações Estratégicas de Vigilância em Saúde do Rio Grande do Sul, ao qual GaúchaZH teve acesso. Até o momento, as autoridades de saúde revelavam apenas a existência de casos confirmados em 19 bairros, sem especificar quais.
A partir do documento, que tem o título Relatório de Atualização de Investigação de Surto, sabe-se que os bairros onde residem mais doentes de toxoplasmose são Tancredo Neves, Juscelino Kubitschek, Pinheiro Machado, Centro e Nova Santa Marta. No levantamento, que compreende 352 pacientes, não há informação sobre o bairro de residência de 108 doentes com exame positivado, ou seja, 30,7% do total. Abrange algumas das áreas mais populosas de Santa Maria.
Colocados em um mapa da cidade, os casos confirmados e com informações disponíveis estendem-se por uma zona contínua do oeste, com um prolongamento para o sul (Urlândia) e no Centro.
Origem da contaminação permanece um mistério
O protozoário que causa a toxoplasmose é eliminado no ambiente pelas fezes de felinos. Por isso, quando há contaminação de algum recurso hídrico ou alimento, o surto correspondente costuma estar limitado no tempo — uma vez consumidos a água ou a comida contaminada, as infecções cessam. Quando pessoas seguem adoecendo durante um período longo, isso significa que a contaminação está se repetindo — há casos documentados em que uma ninhada de gatos vivia em uma caixa d'água e depositava suas fezes com frequência no local.
Os números que constam do relatório obtido por GaúchaZH evidenciam que essa é uma possibilidade no surto santa-mariense. Há pacientes com os sintomas iniciando ao longo de mais de 120 dias. O pico ocorreu entre março e abril, o que pode indicar que o surto esteja em declínio, mas voltou a haver um número significativo nos primeiros dias de maio. Segundo as autoridades, é preciso esperar algumas semanas para saber se as contaminações persistem ou se os casos mais recentes têm apenas a ver com o tempo de incubação da doença, que pode alcançar três semanas.
De acordo com o documento, a Vigilância em Saúde da 4ª Regional de Saúde do Estado foi comunicada em 3 de abril sobre o aumento expressivo de atendimentos a pacientes com síndrome febril. No dia 12, a equipe da vigilância municipal "inicia levantamento de amostras dos reservatórios de água e de material para exame laboratorial dos casos suspeitos". No dia 14, um equipe de técnicos do Estado e da prefeitura dá início à investigação, com objetivo de "confirmar a existência de surto, identificar o agente etiológico e implementar medidas". No mesmo dia, foi confirmada a toxoplasmose em 14 de 18 amostras enviadas ao Lacen. No dia 19, o surto foi tornado público.
Passado mais de um mês, as autoridades ainda não deram respostas sobre a origem da contaminação. Recém foram entrevistas que podem indicar a causa e somente uma leva de amostras de água — a maior suspeita em surtos de grande dimensão — foi enviada à análise.