Bolo sem açúcar, frutas, água e sanduíche de pão integral: aqui, a regra é faça o que eu digo e faça o que eu faço. Quatro nutricionistas abriram as lancheiras dos seus filhos e contaram à reportagem o que os pequenos levam para a creche ou a escola. São receitas fáceis de colocar em prática e à prova de cara feia.
— Esse cuidado é fundamental, pois as crianças estão formando os hábitos alimentares. São escolhas que precisam ser aprendidas cedo e que seguem por toda a vida — afirma a nutricionista Luciana Dias de Oliveira, professora do curso de Nutrição da UFRGS e coordenadora de gestão do Centro Colaborador em Alimentação e Nutrição do Escolar da Universidade.
O que o restante da família coloca no prato também conta pontos e serve de exemplo para os pequenos, diz a nutricionista e professora da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) Anne y Castro Marques. Para ela, com o passar dos anos, a missão do comer saudável fica mais difícil, mas não impossível.
— Vejo que, quanto mais velha é a criança, mais difícil controlar. Não acho errado elas experimentarem alimentos não saudáveis. O problema é a rotina — avalia.
Confira as dicas:
Luciana Dias de Oliveira, professora do curso de Nutrição da UFRGS
Mãe da Alice, cinco anos e João Vitor, de 10, Luciana tem um cuidado que extrapola os limites da alimentação: ela também se preocupa com o impacto que os resíduos das embalagens provocam no meio ambiente:
— O lanche vai em um pote que volta para casa e eu lavo. A água vai em uma garrafa que é nossa. Raramente uso múltiplas embalagens.
E a mamãe capricha no cardápio semanal: sempre faz um bolo com ingredientes orgânicos e farinha integral, manda frutas compradas na feira ecológica ou prepara sanduíches com pão integral, queijo e salada ou queijo e mel. Também entram — com menos frequência — produtos como iogurtes, leite fermentado e granola.
— Eventualmente, coloco biscoitos caseiros ou algum industrializado, mas cuido muito para não ter gordura hidrogenada — afirma.
Nos raros episódios em que o mais velho pede para comprar lanches na cantina da escola, Luciana alerta que ele não deve tomar refrigerante e deve optar por um sanduíche, pão de queijo e suco integral.
— Ele está acostumado. Quando fala que um colega levou bolacha recheada, relata meio apavorado — conta.
Anne y Castro Marques, nutricionista e professora da Universidade Federal de Pelotas (UFPel)
Idade não é desculpa para não levar merendeira. Heitor, de um ano e cinco meses, que o diga: todos os dias, ele vai para a creche com os três lanches. Anne explica que, na escolinha do filho, os pequenos fazem três refeições, e a primeira sempre é uma fruta. Também faz parte da rotina o compartilhamento dos alimentos entre as crianças.
— Assim, eles têm oportunidade de provar várias frutas — diz.
O segundo lanchinho, geralmente, é um pão integral puro mesmo.
— Margarina e requeijão têm muito sódio e não dou nada com açúcar. Ele se acostumou assim desde os 10 meses — justifica.
Bolo sem açúcar, com aveia e frutas, passas de uva e até amendoim fazem parte do menu semanal, finalizado com uma fórmula de leite no fim da tarde.
O trabalho conjunto da escola ajuda na hora de controlar a alimentação. Por lá, Heitor não recebe nada além do que veio de casa. Mesmo assim, ele já tentou pegar o lanche dos colegas, que levam bolachas doces, achocolatados e petit-suisse.
— Sei que não vou conseguir controlar isso por muito tempo, mas enquanto der, vou oferecer uma alimentação saudável.
Claudia Corrêa Fernandes, nutricionista clínica
A mãe de Pedro, três anos, e Felipe, nove, é enfática ao dizer que não adianta pirar muito na lancheira se, em casa, a criança não é acostumada a comer de forma saudável:
— A lancheira é uma extensão do que comemos em casa.
Como os pequenos já estão habituados com esse tipo de alimentação, ela coloca na merendeira itens como sanduíches de pão integral recheados com queijo, patê ou geleia caseiros, frutas e até legumes – entram cenourinhas orgânicas e tomates cereja, que os meninos adoram. Água, chá, água de coco e sucos preparados para o almoço vão junto para garantir a hidratação.
— Às vezes, faço bolinhos salgados com legumes, e eles participam do processo de preparo — conta Claudia.
O que fica de fora da lista são os alimentos processados e ultraprocessados como bolachas, salgadinhos e sucos de caixinha.
Se o seu problema é tempo, a nutricionista avisa:
— Tem de ter planejamento. Costumo organizar a alimentação da família no fim de semana. Também dá para aproveitar os alimentos já prontos para o almoço. Hoje, por exemplo, fiz iscas de gado para o almoço e eles levaram pão recheado com a carne — ensina.
Sobre os itens a serem evitados, a nutricionista diz que evita proibições e prefere explicar os motivos pelos quais a criança não deve comer esse ou aquele alimento.
— É mais a informação e ter o hábito em casa, mas não a proibição — pondera.
Luísa Rihl Castro, nutricionista e professora dos cursos de Nutrição da PUCRS e da Unisinos
Para a mamãe de Guilherme, cinco anos, o mais importante é não inventar na hora do lanche _ é preciso respeitar os hábitos alimentares da criança:
— Sempre tem que pensar: o que ele gosta?
Isso vale para a fruta que a criança adora, que deve ser oferecida no lugar daquela que talvez ela não goste tanto assim. Bolos caseiros e até mesmo os prontos podem ser uma opção para garantir a energia que os pequenos precisam.
— Para os industrializados, tem de cuidar a lista de ingredientes. Quanto menos tiver, melhor. E é importante identificar todos os itens como comida. No rótulo deve ter farinha, óleo, ovo, e não deve conter conservante, emulsificante. Tem que ficar atento a isso — recomenda.
Como Guilherme não gosta muito de água, Luísa adiciona o líquido a algum suco integral, em uma estratégia para garantir a hidratação. Quando o menino leva iogurte, a nutricionista dá a dica:
— Dá para congelar o produto, tirar do freezer e colocar em refrigeração um pouco antes de levar. Isso mantém o alimento por mais tempo. Investir em uma lancheira térmica também é importante.