O exercício intenso na esteira ergométrica pode ser uma opção segura para aqueles que acabaram de receber o diagnóstico de mal de Parkinson e reduzir sensivelmente o avanço da doença, segundo um importante estudo recente com adultos nos primeiros estágios da enfermidade.
Contudo, seus resultados também indicam que a atividade, mesmo que livre de perigo, não parece atrasar o progresso da doença.
O mal de Parkinson é um distúrbio neurológico progressivo que envolve problemas de controle motor. Sintomas como fraqueza, rigidez, perda de equilíbrio e quedas podem tornar o exercício difícil e potencialmente perigoso. Ainda que a enfermidade seja incurável, seus sintomas podem ser reduzidos durante algum tempo com diversas medicações.
Entretanto, a maioria perde a eficácia ao longo do tempo.
Assim, os pesquisadores também começaram a investigar outras opções de tratamento, principalmente para as primeiras fases da doença. Para eles, se o paciente na fase inicial puder brecar o avanço da enfermidade e retardar a necessidade de começar a usar remédios, é possível modificar sua evolução, atrasando seus efeitos mais severos.
Tal possibilidade levou recentemente a uma associação entre a Universidade Northwestern e o Campus Médico Anschutz, da Universidade do Colorado, além de outras instituições, para avaliar o exercício como forma de tratamento.
Havia precedentes: estudos com animais demonstraram que a atividade física reduzia os sintomas e o declínio físico em uma versão do mal de Parkinson em roedores. Só que roedores não são gente.
E, ainda que estudos anteriores com pessoas tenham comprovado que o ciclismo (principalmente em bicicleta para duas pessoas), o boxe, a dança e outras atividades tragam benefícios às pessoas com mal de Parkinson, outras pesquisas terminaram com resultados inconsistentes. Além disso, muitos desses primeiros estudos utilizaram tipos e quantidades diferentes de exercício, e nenhum comparou sistematicamente variedades diferentes de atividade física.
Assim, para o novo estudo, publicado em JAMA Neurology, os especialistas decidiram tratar o exercício como se fosse uma medicação e rastrearam cuidadosamente a segurança e eficácia das "doses" diferentes em uma Fase 2 formal da análise clínica.
Na pesquisa sobre medicações, os estudos de Fase 1 estabelecem a segurança básica de uma droga em experimentos de pequena escala; os de Fase 2 abrangem grupos maiores de pessoas para ver se a intervenção continua segura e, também, se, no jargão da farmacopeia, "ela não é fútil", isto é, se existem efeitos positivos suficientes para merecer mais testes.
Para a segunda fase, a princípio foram recrutadas 128 pessoas diagnosticadas com mal de Parkinson nos últimos cinco anos. Nenhuma ainda tomava remédios para tratar a doença nem se exercitava regularmente.
A capacidade aeróbica, a frequência cardíaca máxima e a severidade da enfermidade foram testadas usando uma escala numérica padrão. Depois, homens e mulheres foram aleatoriamente divididos em três grupos, um dos quais tocou a vida como sempre para servir de controle; por uma questão de justiça, esse grupo entrou em uma lista de espera para treinamento físico posterior.
Os outros começaram a se exercitar: um grupo caminhava suavemente por 30 minutos em uma esteira mecânica quatro vezes por semana, com os cientistas manipulando a velocidade e a inclinação da máquina para manter a frequência cardíaca do voluntário entre 60% e 65% da máxima.
O terceiro se exercitou pela mesma quantidade de tempo, mas com ritmo e inclinação mais intensos, com a frequência cardíaca entre 80% e 85% da máxima.
Durante um mês, as sessões foram supervisionadas; depois disso, os voluntários deveriam continuar por conta própria, com monitores cardíacos acompanhando seus esforços.
Os pesquisadores pediram que lesões fossem relatadas. Ao final de seis meses, o status da doença foi reavaliado. Sem surpresa, quem manteve o mesmo estilo de vida apresentou piora. A pontuação na escala da doença declinara três pontos em média.
Da mesma forma, quem fez exercício moderado apresentou declínio ao redor de dois pontos, ou seja, pelo padrão do estudo, o exercício fora "fútil" como tratamento para o mal de Parkinson. Todavia, o grupo que malhou intensamente quase não demonstrou declínio na pontuação da enfermidade, isto é, o exercício "não fora fútil". Ele havia ajudado.
E um fato importante: a rotina era tolerável. Quase todos nos dois grupos de exercício conseguiram completar seis meses de atividades físicas regulares sem lesões, apenas com queixas esporádicas de dores musculares. O estudo não foi desenvolvido para determinar por que o exercício intenso reduziu a progressão do mal de Parkinson enquanto o moderado não surtiu efeito.
— Minha opinião é que a atividade física intensa funciona melhor no aprimoramento da vascularidade cerebral e do suprimento sanguíneo neuronal — diz Daniel Corcos, professor de Ciência do Movimento Humano da Faculdade de Medicina Feinberg da Universidade Northwestern, que ajudou a chefiar o estudo.
— Seguindo a mesma linha de raciocínio, o fluxo sanguíneo melhorado pode ter ajudado a saúde cerebral como um todo e reduzido a deterioração. Porém, essa hipótese ainda precisa ser testada.
Ainda segundo o pesquisador, um estudo Fase 3, mais amplo e longo, do exercício intenso como tratamento para os primeiros sintomas do Parkinson, também é necessário e, agora, justificado, segundo esses resultados. Corcos e seus colegas já estão planejando a experiência.
Ao mesmo tempo, porém, os resultados indicam que quem ficar sabendo agora que tem Parkinson deve considerar "um programa intenso de exercícios".
Antes, sem dúvida, fale com seu médico e, talvez, consulte um orientador esportivo familiarizado com o mal. A descoberta é encorajadora, sugerindo que o exercício intenso provavelmente não causará danos e pode ser uma ajuda importante.
Por Gretchen Reynolds