Ao desmembrar o primeiro Boletim Epidemiológico de Tentativas e Óbitos por Suicídio no Brasil, divulgado nesta quinta-feira (21) pelo Ministério da Saúde, a região Sul fica nitidamente em destaque. Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná respondem por uma taxa de 23% dos casos. Considerando que os Estados detêm somente 14% da população nacional, o número é preocupante.
– No Sudeste, são registrados 38% dos suicídios, mas a região representa 42% da população. Assim, o risco é menor no Sudeste do que Sul, onde há um aglomerado importante, que pode estar associado à cultura dessa área – observou Fátima Marinho, diretora do departamento de Doenças e Agravos Não Transmissíveis do ministério.
Sem se surpreender com os números, Claudia Weyne Cruz, psicóloga do Observatório de Análise de Situação do Suicídio no Rio Grande do Sul, vinculado à Secretaria Estadual da Saúde (SES), afirma que o Estado está ciente da situação e atua com medidas semelhantes às propostas pelo ministério no combate a essas mortes. Um dos passos que a SES tem incentivado é na qualificação das notificações das tentativas de suicídio.
– Os serviços precisam notificar para termos uma noção da magnitude do fenômeno. Na medida que se notifica, pode-se intervir. Nesses casos, recomendamos que pessoas que são atendidas nas emergências já saiam com orientação de um serviço especializado e com envolvimento da família – disse.
No Rio Grande do Sul, três municípios se destacam entre os quatro com piores indicadores do país: Forquetinha (78,7 casos a cada 100 mil habitantes), Travesseiro (55,8 a cada 100 mil) e André da Rocha (52,4 a cada 100 mil). No entanto, há de se considerar a população estimada dessas localidades, inferiores a 3 mil habitantes.
– Tem que ter cuidado, pois, às vezes, a cidade é muito pequena, e um único caso já parece muito –ponderou Claudia.
Determinadas regiões já estão sob vigilância da SES em razão do grande número de casos registrados tanto na população idosa quanto nos jovens. O Vale do Rio Pardo é um dos alvos das autoridades de saúde, que farão por lá uma pesquisa qualitativa.
Várias são as hipóteses para o número elevado no Rio Grande do Sul. Claudia salienta que o suicídio não tem causa única, sendo um somatório de diversos fatores. Entretanto, em uma população específica que ela estudou, de agricultores idosos, foi evidenciado o sentimento de inutilidade:
– Não podemos generalizar. Seria leviano se a gente fixasse um fator. É uma sobreposição. Nessa população, foi observado que eles trabalhavam para viver e viviam para trabalhar. O trabalho é um valor moral. Com o adoecimento do corpo, sentiam-se um estorvo para a família.
Assistência salva vidas
Uma das metas do Ministério da Saúde é reduzir a mortalidade por suicídio em 10% até 2020. O índice foi acordado no Plano de Ação em Saúde Mental, lançado em 2013, pela Organização Mundial de Saúde (OMS), o qual o Brasil é signatário.
Expandir a atuação dos Centros de Apoio Psicossocial (CAPS) está na agenda estratégica da pasta para diminuir os números. De acordo com o boletim, locais que contam com esse serviço têm queda de até 14% no risco de suicídio. Também está no horizonte do órgão ampliar o atendimento em parceria com o Centro de Valorização da Vida (CVV). Tornar gratuita a ligação para esta instituição é uma das medidas que devem ser tomadas em oito Estados a partir do dia 30. No Rio Grande do Sul, isso já é uma realidade. Conforme os dados, o número de atendimentos registrou aumento de 13 vezes, passando de 4,5 mil ligações em setembro de 2015 para 58,8 mil em agosto deste ano.
Para diminuir as mortes por suicídios entre indígenas, a SES está levando para o Comitê de Promoção de Vida e Prevenção do Suicídio uma representação vinculada à saúde desses povos.