A Santa Casa de Rio Grande é o maior complexo hospitalar da Região Sul do Estado e referência em atendimentos de média e alta complexidade para 23 municípios. Completou 180 anos em 2016 e passa pela mais grave crise financeira da sua história. Em abril, a dívida com fornecedores, médicos e prestadores de serviços foi estimada em R$ 150 milhões.
A situação foi agravada a partir no fim de 2014, quando a Justiça determinou o afastamento dos antigos administradores, alegando desvio de recursos e má gestão. Desde então, o hospital é administrado de forma provisória pela prefeitura. A intervenção foi oficializada em 1° de abril de 2015 e coincidiu com repetidos atrasos de recursos por parte do Governo do Estado.
Com o cenário turbulento, salários foram atrasados, funcionários paralisaram atividades, e o hospital suspendeu atendimentos ambulatoriais em especialidades médicas, como traumatologia. As consultas e cirurgias nessa especialidade só voltaram a ser feitas na última segunda-feira.
O impasse prejudicou o tratamento do aposentado, Dilmo Fonseca Borba, 75 anos. Ele aguardava há um ano uma consulta com um traumatologista. Sente dores fortes nos joelhos, mal consegue caminhar. Nesta quarta-feira (15), viajou mais de 200 quilômetros, do interior de Camaquã, até Rio Grande.
Seu Dilmo é um exemplo de pacientes que não têm alternativa a não ser viajar para poder consultar e fazer cirurgias com médicos especialistas. Segundo a Santa Casa, de janeiro até o dia 14 de junho, 6,652 mil pessoas foram atendidas no ambulatório.
E o que chama atenção na frente do hospital, são carros, ambulâncias e até micro-ônibus de secretarias de saúde que chegam com pacientes, todos os dias da semana. O primeiro a ser atendido é obrigado a esperar o último. Não tem jeito. Às vezes, os veículos que chegam pela manhã, só retornam à tarde para as cidades.
A situação atual da Santa Casa: em abril deste ano, a prefeitura prorrogou por mais um ano a intervenção no hospital. E já destinou R$ 8 mi para cobrir despesas e manter atendimentos.
O superintendente do hospital, Jeferson Alonso, não quis se manifestar sobre a gestão financeira da instituição, mas informou que os salários dos cerca de 1,6 mil funcionários estão em dia. O fato é que nesse momento ruim para a saúde, a comunidade tem se solidarizado pela causa, pela preservação dos atendimentos. Na última terça-feira R$ 23 mil foram doados para a instituição. O valor foi arrecadado durante um brechó e serviu para a compra de dois equipamentos modernos que agora estão sendo utilizados no bloco cirúrgico. O Governo e Santa Casa têm contrato anual de R$ 73,6 mil.
Canguçu
A 130 quilômetros de Rio Grande, outro problema crítico: o Hospital de Caridade de Canguçu é o terceiro mais estruturado da Zona Sul do Estado, tem 127 leitos – 80% deles para atendimentos pelo SUS e uma UTI com 10 leitos para pacientes de todo o Estado. A instituição tem contrato mensal com o governo de R$ 853 mil. Mas os serviços prestados em maio, por exemplo, ainda não foram pagos, o que gera atrasos de salários. 230 funcionários e 50 médicos terceirados ainda não receberam.
A folha de pagamento chega a R$ 460 mil, mas não há dinheiro em caixa. Já são 10 dias aguardando a verba do Estado. Há casos de médicos que não recebem há cinco meses. E de fornecedores que não são pagos desde julho do ano passado. O hospital é referência para municípios vizinhos, como Morro Redondo, Piratini, Santana da Boa Vista e Encruzilhada do Sul. O presidente do hospital, Luís Ernesto Vargas, não descarta suspender serviços prestados pelo SUS
Canguçu tem cerca de 55 mil habitantes. Segundo o secretário de Saúde, Demaicon Peter, só neste ano, o governo deixou de repassar R$ 500 mil à prefeitura. A Farmácia Básica, de responsabilidade do munício e do Estado, é um dos setores mais afetados e já passou por desabastecimento: já faltou omeprazol, dipirona, e remédios para hipertensão. A secretaria precisa arcar com a compra dos medicamentos e nem sempre consegue pagar os fornecedores. O secretário estuda demitir funcionários temporários ainda este ano para continuar prestando os serviços à população.