Garantir a estrutura necessária para a atuação médica e, assim, um atendimento ainda mais qualificado para a população. Estas foram, em suma, as principais metas do médico anestesiologista Carlos Sparta à frente do Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio Grande do Sul (Cremers). Ele presidiu a autarquia nos últimos 20 meses e, agora, faz um balanço dos projetos desenvolvidos.
De acordo com ele, os pilares da sua gestão foram a qualificação – por meio de projetos de educação continuada –, a fiscalização dos locais de trabalho, a luta por cursos com estrutura para formar profissionais de excelência e o investimento em tecnologia – agilizando e dando segurança a diversos processos. A desburocratização para abertura de empresas médicas também é um dos destaques apontados pelo médico.
– Tivemos grandes conquistas, como a capacitação de mais de cinco mil médicos, por meio de cursos totalmente gratuitos em áreas como diretor técnico, diretor clínico, publicidade médica e declaração de óbito – destaca Sparta.
Em entrevista, ele lembra momentos importantes de sua gestão e destaca a parceria com outras entidades da classe médica do Estado, garantindo melhores condições de trabalho e o cuidado da população. Confira:
O que ficou de mais marcante de sua gestão à frente do Cremers?
Encerramos esse período de 20 meses focados bastante na aproximação do Conselho com o médico, por meio da digitalização, com investimento muito grande em Tecnologia da Informação, e também com muitos cursos de educação médica continuada, capacitando mais de cinco mil médicos. Foram grandes conquistas, principalmente contra a abertura de novas vagas de Medicina, onde o Cremers, junto com a Advocacia-Geral da União (AGU), conseguiu barrar mais de 480 novas vagas.
A gente sabe que, se tiver faculdade de Medicina sem estrutura, sem prestar qualidade de ensino, vamos ter médicos mal formados, que vão fazer um atendimento precário da população e o atendimento precário causa tragédias. O médico com formação fraca demora para fazer um diagnóstico, pede muito mais exames, gerando custo e prejuízo. Além disso, com o atraso no diagnóstico, uma doença de estágio inicial, que teria tratamento, ganha gravidade e pode se tornar inoperável, incapacitante ou levar a óbito.
Quais foram as principais conquistas para os médicos gaúchos nesse período?
Tivemos uma aproximação histórica entre as entidades médicas, com a Associação Médica do Rio Grande do Sul (Amrigs) e o Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers). Juntos, conseguimos alterar a remuneração dos valores da tabela do Instituto de Previdência do Estado (IPE), com mais R$ 130 milhões por ano em honorários médicos, que estavam há mais de 10 anos sem reajuste. Isso representa um aumento de cerca de 70% para os médicos credenciados.
Qual a importância e a extensão do trabalho do Cremers?
O trabalho do Cremers ajuda a garantir um atendimento de qualidade à população. Estivemos em muitos hospitais e clínicas de todas as regiões do Estado, verificando a estrutura que dão para o médico fazer seu trabalho.
Com boa estrutura, o atendimento médico reduz custos e salva vidas. Quando consegue, na própria unidade, fazer diagnóstico e tratamento, o profissional não precisa encaminhar para outro centro, solicitar novos exames. Por isso, fizemos muitas vistorias, entregamos relatórios para diretores ou prefeituras, para adequar os hospitais e essa estrutura como um todo. Esse processo é fundamental para ter uma população protegida, que é o mais importante.
O Cremers também promove ações de combate ao exercício ilegal da profissão, correto?
Em mais uma inovação dessa gestão, criamos o Departamento de Exercício Legal da Medicina, pelo qual foram abertos mais de 170 expedientes em 2022. Neles, a gente identificou pessoas que não eram nem mesmo da área da saúde fazendo procedimentos exclusivos de médicos. Então, encaminhávamos aos órgãos competentes.
Há cerca de 15 dias, uma falsa médica chegou ao Conselho com diploma falso e tentou fazer sua inscrição. Em conjunto com a Polícia Federal, foi realizada a prisão dessa suposta médica. Mostramos, com esse último trabalho, a atuação contra falsos profissionais. O departamento é formado por uma comissão com dois funcionários, um advogado e três médicos conselheiros que ficam diariamente acompanhando esse serviço.
Como o Cremers se relaciona com a sociedade?
O Cremers atua para garantir o exercício da boa Medicina e proteger a população de riscos. A primeira medida da gestão em direção ao bem coletivo foi intensificar a fiscalização, dando melhor estrutura para o médico fazer atendimento com qualidade e prestar um bom serviço aos pacientes. Além disso, o conselho também trabalha para combater a atuação de não médicos que fazem procedimentos na área e que causam, muitas vezes, sequelas permanentes na população.
Como vocês encerram esta gestão?
Atuamos firmemente na modernização do receituário digital, temos conversas avançadas com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para ter receituário digital dos medicamentos controlados. Seria uma facilidade muito grande, especialmente aos psiquiatras e neurologistas, que utilizam mais receituário azul e amarelo. Também estamos bem próximos de fazer um prontuário médico unificado, onde todos terão acesso gratuito dentro da plataforma do Cremers. E avançamos muito em TI. Em termos estruturais, demos início a uma reforma importante na sede do Conselho, com dois andares já em obras.
Quanto à educação médica continuada, estamos mantendo todos os cursos com reconhecimento internacional, que serão realizados até o fim do ano. Isso deve permanecer e ser estimulado e ampliado. A unificação das entidades médicas em grupo de trabalho, atuando juntas, também vai continuar. Assim como as parcerias com órgãos importantes da nossa sociedade, como o Ministério Público e as polícias, agindo contra não médicos. Queremos que a próxima gestão permaneça atuando firmemente nessas áreas. O legado está próximo e a nova diretoria terá autonomia para definir os rumos do Cremers.
Por fim, gostaria de agradecer aos colegas médicos pela confiança em mim depositada. Fizemos um trabalho muito sério, junto com a diretoria e o corpo de conselheiros. Aproveito para parabenizar as entidades médicas, que estiveram sempre unidas, lutando por uma medicina de excelência. Este é nosso legado. Estaremos sempre torcendo e ajudando, o máximo que pudermos, a medicina gaúcha.