Todas as quartas-feiras, desde agosto, Rivelino Gonçalves desce do Campo da Tuca, onde mora, até a sede do Instituto Vida Solidária (IVS), na Vila São Pedro.
Ali, em uma casa simples à beira da Avenida Ipiranga, ele oferece uma oficina de arte e artesanato para crianças da comunidade do Cachorro Sentado, como é conhecida a vila, que frequentam o serviço oferecido pelo instituto.
— Muitos chegam ali sem saber nada, mas a gente vai ensinando. Eles desenvolvem habilidades com o lápis e coordenação motora que ajudam na escola — explica Rivelino, ou Lito, como é chamado pelas crianças.
A oficina de Lito é apenas uma das oferecidas às cerca de 40 crianças atendidas pelo Instituto Vida Solidária, braço social da Associação Médica do Rio Grande do Sul (Amrigs).
Por meio de uma parceria com a Fundação de Assistência Social e Cidadania (Fasc), o IVS desenvolve atividades cinco dias por semana, nos dois turnos. O projeto do IVS, iniciado em 2012, faz parte do Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos (SCFV).
As crianças em situação de vulnerabilidade social têm entre seis e 14 anos, recebem alimentação e um espaço seguro para conviverem e se desenvolverem.
De acordo com os dados da Fasc, a Capital tem outras 80 parcerias com Organizações da Sociedade Civil que atingem mais de 8,6 mil crianças e adolescentes.
Como explica Lito, sua oficina de arte ajuda as crianças em suas habilidades artísticas, porém seu propósito maior é outro:
— Transformar essas crianças em cidadãos. Tirar eles do caminho da rua e oferecer outra possibilidade de futuro, como na arte.
Além dos trabalhos de desenhos e pinturas, a oficina aproveita para fazer trabalhos com as tampinhas que são coletadas para reciclagem pelo Instituto Tampinha Legal. Enquanto o IVS não tem tampinhas suficientes para a venda, utiliza-as para brincadeiras das crianças.
No início do mês, a Amrigs instalou um ponto de coleta de doações na Avenida Ipiranga, 5.311.
Proteção
Na parede, quadros de cartolinas e desenhos coloridos registram a rotina dos pequenos, que inclui café da manhã, almoço e lanche da tarde.
Cada dia da semana tem uma atividade programada, como futebol, jiu-jitsu e artes. De acordo com o coordenador pedagógico do IVS, Diego Centeno, o projeto é importante para garantir a proteção das crianças e adolescentes.
— Ali elas têm refeições, atividades pedagógicas e lúdicas em um espaço seguro. Essas crianças não vão estar vulneráveis ao trabalho infantil ou à exploração sexual, que a gente sabe que hoje também é bem latente — afirma Diego.
Além dos recursos financeiros da Amrigs, o IVS recebe financiamento da FASC e do Funcriança de Porto Alegre.
Por um futuro melhor
A parceria de Diego e Lito é antiga e envolve outros projetos sociais desenvolvidos na região em que moram, o Campo da Tuca. O plano inicial do coordenador, ao convidar Lito, era oferecer atividades de desenho e técnicas artísticas para as crianças.
Ele defende a importância dessa forma de expressão para a comunicação dos pequenos.
— Através da arte, um desenho, uma pintura, as crianças colocam para fora suas ansiedades, medos, traumas. Ali a gente consegue identificar algumas coisas da vida dela e ajudar a se desenvolverem — pondera.
Nos primeiros dias, Lito também aproveitou a iniciativa de reciclagem de tampinhas que o instituto mantém para diversificar os exercícios. O artista conta que habilidades artísticas foram adquiridas ao longo da vida. Agora, ele se orgulha de poder transmitir esse conhecimento às crianças e destaca o fato de ser de outra comunidade:
— Eu sou de uma outra favela ajudando uma outra favela. (Com a oficina), quero mostrar pra essas crianças que uma pessoa de um lugar pode frequentar outros lugares, que dá pra olhar pra frente e dá para sonhar um futuro melhor — resume Lito.
*Produção: Guilherme Freling